segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Atenção

Acordei numa sala. Nela havia um jarro d’água. Não tinha portas nem janelas. Nada estava lá dentro além daquele jarro d’água. Procurei uma saída. Tentei cavar um buraco no chão, nas paredes. Não deu certo. Perambulava pensando em outra opção, ao mesmo tempo em que encarava o recipiente. Cansado do silêncio, comecei a falar com o objeto, e ainda esperava ansioso por uma resposta, mas era só um jarro d’água. O que ele poderia falar para uma pessoa tão insana. Preferiu calar-se e cuidar da própria vida. A fome corroia o meu corpo. Aos poucos bebia o conteúdo da vasilha. Logo o líquido acabou e a sede tornou-se insuportável. E o pior de tudo foi aquela coisa não dar um pio. Apenas ficava ali, parada, mostrando o outro lado através de seu corpo transparente. Insistia para que dissesse algo. Ela não estava a fim de papo. Desisti e fiquei olhando. O solo poderia me acolher. Os muros me consolar. Minha atenção dirigia-se ao jarro. O tempo passou. E de tanto observá-lo, me irei e quebrei-o. Quando percebi o que fiz, já era tarde. Estava sempre o pressionando. Exigindo algo dele. Tomando suas posses. Não havia o que exigir. Tudo o que podia era ficar parado. Não passava de um pobre e frágil jarro d’água.