sábado, 24 de setembro de 2011

Internado - parte 4


– Jornalista? - o detetive passou a mão no queixo, pensativo - Hum... você não seria aquela jornalista desaparecida, seria?

– Eu mesma... E acho isso bem óbvio né senhor.

– O que veio fazer aqui?

– Quando os assassinatos começaram, meu chefe pediu para me aprofundar mais no assunto e ver se descobria alguma gafe. Analisei a localização das vítimas e notei que a maioria amontoava-se próxima a saída norte da cidade. Só existe uma estrada que passa por la.

– E nessa mesma estrada fica o caminho para o hospital.

– Exato. No começo eu apenas investiguei os arredores. Não encontrando nada, fitava o mapa todo marcado e reparei mais neste lugar. Foi a primeira vez que vi ele em nossos mapas. Pesquisei um pouco mais, e quanto mais procurava, mais estranho parecia. O que um hospital faria no meio do nada, próximo a uma estrada. Do jeito que era desconhecido já deveria ter ido à falência. Logo corri para ver de perto, talvez encontrar uma “primeira página”, e aqui estou eu, uma hóspede forçada de um centro médico lotado de lunáticos.

– Eu deveria ter pensado nisso...

– Se não pensou, como chegou aqui?

– Um mendigo me contou...

– Bom... Se você diz.

– Vejo que já se conheceram - falou a voz ecoada de Mohamed - Eu tenho uma tarefa para você Valéria. Por que não apresenta o funcionamento de nosso maravilhoso estabelecimento?

– Como se eu tivesse escolha... - abriu a porta do banheiro bufando - Não vem?

– Vou usar o banheiro rapidinho. - falou Antônio - Pode me esperar fora.

– Tá. - saiu.

O detetive não queria participar das brincadeiras do médico, mas enquanto ele estivesse vigiando, não havia o que fazer por enquanto. Usou um dos toaletes e apoiou-se na pia. Molhou o rosto, olhando seu reflexo no grande espelho. Viu uma chama brilhando nele. Olhou para trás. Não encontrou nada. A imagem da fogueira o hipnotizava.

– O fogo é algo tão bonito, não? - sussurrou uma voz.

– Ahn?! - Antônio virou-se assustado.

– Calma! - Valéria pulou com a reação do homem.

– O que disse?

– Eu só perguntei se tinha terminado.

– Mas eu... tenho certeza que... - coçou a cabeça, confuso - Desculpe, vamos.

domingo, 4 de setembro de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #10

Diana, em sua carteira, terminava a prova de literatura na sala de aula. Sentia-se cansada do esforço da noite passada. A lua cheia sempre é um problema para ela. Ficava cada vez mais difícil escapar de sua influência. Thiago ficou no apartamento, bolando um plano para invadir a dimensão de Anônimo e descobrir suas pretensões. Melissa esperneou, inutilmente, para que a levasse à escola. Kamila mal olhava a folha do teste. Fitando a parede, distraía-se pensando nos reais sentimentos de Thiago por ela.

– Er... Professora? - um dos alunos se levantou.

– O que foi? Terminou? - falou a mulher.

– Não, senhora. Lá fora.- o menino apontou para a janela.

Uma garota de verde e cabelos brancos acenava e chamava pela bruxa, sorrindo.

– Diana, o que significa isso? - indagava-se a tutora.

– Desculpe professora... - a feiticeira fez um sinal e a pessoa saiu. Para sua surpresa, era Melissa, no tamanho de uma garota normal e sem asas.

Após o período, Diana encontrou a serva na saída do Colégio.

– Melissa, o que faz aqui? Mandei ficar em casa com o RP-6.

– Ah, mas ele só fica lá parado. E se falo algo, tudo que ele diz é “Informação indisponível” e “Não consta nos registros”. Fiquei entediada. - a pequena fez bico, cruzando os braços. - Por isso eu vim aqui.

A menina junto as pontas dos dedos indicadores, olhando para o lado.

– Mestra... Você quer... Você quer sair comigo? - disse a fada, vermelha.

– Ora... claro. Por que não?

– Ebaaaaaa! Vou sair com a mestra Dianaaaaa, la la la la la laaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Olha só quanta animação. - Bruna aproximou-se das duas.

– Ah, oi Bruh! Tudo bem com você? - perguntou a bruxa.

– Estou sim. Muito difícil a prova?

– Um pouco. E pra você?

– Fácil.

– Quem é essa, mestra? - a fada fitava a moça de óculos de trás da amiga.

– Essa é bruna, minha amiga. Bruna, essa é Melissa, minha... minha irmã caçula!

– O quê?! - indagou a baixinha.

– Melissa. Que nome fofo. Prazer em conhecê-la. - Bruna inclinou-se em respeito.

A pequena ficou sem graça coma a graciosidade da moça.

– Então... vão a algum lugar?

– Vamos sim. Quer ir junto?

– Adoraria.

– NÃO! - Melissa entrou na frente de Diana- Você não irá estragar meu maravilhoso encontro com a mestra. Sua peituda. PEITUDA!

– Peituda? - Bruna não compreendeu o suposto insulto.

– Pare com isso, Melissa. - bronqueou Diana.

– Hum...tá. Mas eu fico do seu lado. A fada segurou o braço da bruxa. - A quatro olhos fica logo atrás.

Conversando, as meninas foram à uma sorveteria próxima.

– Ah! Adoro sorvete de menta! - suspirou a fada.

– Eu também. É o meu favorito. - declarou Bruna.

– Prefiro de flocos. - a feiticeira mexia no doce gelado com a colher. - Não deve ser tão bom quanto o beijo do Thiago, né Bruh?

– Ahn? - a moça envergonhou-se.

– Sabia Melissa? A Bruh beijou nosso amigo ruivo.

– O quê?! E ela ainda ousa dar em cima de você? Peituda tarada!

– De novo esse papo de seios... - confundia-se a nerd.

– Ouviu mestra. Eu posso ter peitos pequenos, porém nunca irei te trair. - Melissa segurou forte a mão da parceira.

– Que lindo. Sua irmãzinha te ama mesmo. - Bruna sorria.

– Sim! Eu amo... Eu amo você mestra! - a alta declaração chamou a atenção dos clientes e funcionários da sorveteria.

– Ah... Eu também te amo.

– Ama?

– Claro. Você é minha irmãzinha, certo?

– Mas... não foi isso que eu... - a pequena abaixou a cabeça. Seus olhos lacrimejavam -Mestra boba!

A menina pulou da mesa e correu.

– Melissa! Espere! Droga... Desculpe Bruh, eu...

– Tudo bem. Vá atrás dela. Eu pago o de vocês.

– Desculpe.

A bruxa saiu correndo pela cidade, procurando pela amiga. De tantas voltas que deu, parou para descansar num parque vazio. Ouviu um choro. Vinha de uma árvore ao seu lado. Num buraco, Melissa, de volta a forma alada, chorava encolhida.

– Ai ai, Melissa. - tirou a criaturinha do buraco e a deixou sentada na palma da mão - Por que fugiu daquele jeito?

– Me...solta... - a fada soluçava de tanto chorar.

– Pare de chorar. - enxugava as lágrimas da amiga com o dedo - Você é uma coisinha tão linda. Por que chorar tanto assim?

– Só que... a mestra... não me ama do mesmo jeito que eu.

A bruxa encostou a fada no peito.

– Mestra... - Melissa apoiou a pequena cabeça na região em que era encostada.

– Amor é amor, Melissa. Eu te amo muito. Bem mais do que imagina.

– É sério?

– Seríssimo. Você é incrível. Sempre que preciso de ajuda você está perto para me apoiar. Quando me sinto triste, você fica do meu lado e me consola. Eu adoro como fica alegre, e procura pelo bem de todos. Como trabalha duro com as suas irmãs. Por isso eu te amo. E a última coisa...melhor, a única coisa que eu jamais desejaria é te fazer chorar.

– Eu também te amo! - a fada saltou, rodeando a feiticeira. - A partir de agora vou me dedicar mais. E você irá se apaixonar por mim, tenho certeza!

– Esse é o espírito. E para começar que tal me levar a algum lugar? Ainda podemos ter aquele encontro.

– Eu passei por um playground lindo. Tinha um carrinho de churros por lá.

– Vamos então.

– Ebaaaa! Churros de chocolateeeeeeee!

sábado, 27 de agosto de 2011

Internado - parte 3

Cruzando o caminho ensanguentado, antônio alcançou o elevador. Chamou-o. O chão gelado o levava a espirrar. Resfriado? A falta da roupa íntima o deixava desconfortável. Sentia-se exposto. Num apito, as placas de metal se afastaram e ele entrou. Apertou o botão respectivo ao primeiro andar. Uma melodia agradável tocava. Ela parou. Uma música ao som de piano passou a tocar. A mesma que Júlia performou no teatro, antes de revelar sua identidade, e morrer. Da fresta da porta, um bilhete foi empurrado para dentro do elevador. Como aquilo era possível? O elevador estava em movimento. Antônio abriu o bilhete. Apenas uma palavra escrita: FOGO.

Sentiu um tranco e o elevador começou a cair. Inexplicavelmente, a coisa descontrolada não atingia o fundo. Enquanto caia, Antônio ouvia a voz de Júlia sussurrar repetidamente a palavra no papel. O elevador parou. A voz sumiu, juntamente com o bilhete. A alegre melodia voltou a preencher o local. O que foi aquilo? Uma alucinação? Um sonho? Achou serem efeitos da injeção que levou.

As portas se abriram. O investigador procurou pelo quarto 140. Não encontrou. Checou várias vezes. A numeração dos quartos ia somente até o 112. O que estaria errado? Antônio vasculhou o andar, procurando por pistas. Durante a busca, um detalhe chamou sua atenção. Incrustados na porta do banheiro feminino, arranhões formavam o número 140.

– Oh, vejo que encontrou o quarto. - falou a voz de Mohamed.

– Isso é um banheiro... - resmungou o investigador. - O que você injetou em mim?

– Primeiro, não fui eu quem injetou, sim a enfermeira Laura. É um medicamento especial que eu mesmo criei. Costumo dá-lo a todos os meus pacientes.

– Medicamento? Tá mais para alucinógeno.

– Ah, detetive. Deixe de desculpas. Entregue-se aos seus sentimentos. O remédio nada mais é do que um meio de ampliar o que já existe em você. Agora entre.

– E o que eu deveria encontrar aí dentro?

– Logo irá descobrir.

O inesperado diálogo com o doutor tirou sua dúvida em relação a existência das câmeras escondidas no prédio. Em passos cautelosos, Antônio invadiu o banheiro. Paredes encardidas. Torneiras disparando água. Um dos boxes estava aberto. O homem se aproximou lentamente. Viu apenas um vaso desprovido de sua tampa, coberto com pedaços de papel higiênico. De repente, ele foi atacado pelas costas. Uma mulher o chacoalhou gritando. Ela tentava perfurá-lo com um pedaço de vidro. Gritando por calma, o homem a empurrou, segurando-a contra a pia.

– O que vocês querem dessa vez? - perguntou ela, fatigada.

– “Vocês”?

– Estou farta disso tudo! Por que não me matam de uma vez? - a moça de pele escura e cabelo liso encolheu-se no canto.

– Olha, não sei o que fizeram com você, mas acredite, não estou com eles.

– E daí? - a mulher levantou-se rapidamente na direção do homem - Como vou saber se não é mais um daqueles pacientes malucos?

– Eu até mostraria meu distintivo, se não estivesse quase nu aqui. E afinal, eu tenho cara de louco?

– Não...não tem.

– Estou tão fodido quanto você nesse lugar.

– Ai, que porra... Tá bem, tá bem. Desculpe.

– Vamos recomeçar. Meu nome é Antônio. Sou detetive.

– Valéria. Jornalista.

domingo, 14 de agosto de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #9

Diana meditava em seu quarto. O cheiro de incenso, acompanhado da leve iluminação de velas ritualísticas, preenchiam o ambiente obscuro do cômodo. Ouviu um barulho e resolveu checar. Encontrou Thiago na sala, fitando inúmeras armas num compartimento escondido na parede.

– Pensei que fosse contra armas de fogo. - disse ela.

– E sou. Mas da última vez que enfrentei o Anônimo, o que eu tinha não foi sulficiente. Terei de usar tudo ao meu alcance para derrotá-lo.

– Só não se esforce demais. Vai mesmo se encontrar com a Kamila depois daquele incidente?

– Ela parou de falar comigo. Eu...sinto falta dela.

– Sente é? Que progresso para um equipamento de destruição em massa.

– Tem certeza de que quer ficar?

– Sim. Preciso ficar sozinha um pouco. Me tranquilizar. É quase lua cheia e... Ah, esquece. Não é nada. Vá aproveitar seu encontro.

– Afirmativo.

Após dias sem contato, Kamila repentinamente convidou o robô para sair. Na verdade, soou mais como uma ordem que um convite. Encontraram-se no cinema. A moça reclamou do uniforme branco do menino e o puxou até a sala. O clima romântico da película os incomodava. As vezes levava a maquina a observar Kaminla, que virava o rosto emburrada, e numa indecisão e arrependimento voltava o olhar ao garoto, que retornara a assistir o filme. Ela queria conversar. Ele também. Não aguentaram, falando em uma súbita coincidência misturada de palavras. Riram daquele momento visto somente em ficções. Os espectadores ordenaram silêncio e o casal se calou. Saíram argumentando sobre o final do filme. De mãos dadas, enterravam-se em seu próprio mundo, mal percebendo a lotação do centro de compras. Kamila parou de repente.

– Por que anda comigo? - perguntou ela.

– Geralmente, porque você me arrasta.

– Você me odeia?

– “Ódio” não consta nos registros.

– Mesmo eu gritando o tempo todo com você e maltratando os outros?

– Não consta nos registros.

– Ai...e eu pensando que tu tinha parado com essa palhaçada. - a menina fechou o punho e o colocou no peito. - Eu achei que me odiasse...quando...fez aquilo com a Bruna. Então...você me ama?

– Amar?

– É que...só pode ser...Você é o único garoto sincero comigo, e que não está interessado só no meu corpo. Ao meu ver é assim.

– Amar...Eu não...Consta...Indispon... ERRO!

– Erro?!

– Desculpe. - o robô correu, deixando a amada sem resposta.

A lua cheia iluminava os céus. A escuridão engolia o apartamento de Thiago. Ao acender a luz, ouviu um grito. Uma pequena mulher alada surgiu do corredor.

– Ai, que susto! Pensei que fosse um bandido. Quase te transporto para um rio congelado, seu doido! Uma fada não pode ter mais paz nesse universo?

– Me perdoe... - o robô estranhava aquela criaturinha de 20 centímetros a voar com suas asas de inseto. Vestia um colete e mini-saia verdes, botinas e luvas. O cabelo era curto e brilhava intensamente.

– Você deve ser o Thiago, o homem de lata, certo?

– Homem de lata?

– Sou Melissa, familiar da mestra Diana. Ela vive falando de você na minha terra. Eu e minhas irmãs o apelidamos de “homem de lata”. É engraçado. - a fada deu uma breve risada.

– Claro...Onde está ela?

– No quarto, e me deu ordens para não deixá-lo entrar.

– Por que motivo?

– Digamos que ela...precisa se controlar, e não quer ser incomodada em sua meditação.

– Certo, desde que ela fique bem.

– Sim, sim! Eu amo tanto ela. Quer dizer...não é que eu amo ela, eu gosto dela muito, e ela é tão bonita...Digo...Ela é uma garota maravilhosa, certo? - a pequenina ficou vermelha - Você sabia? A maioria das bruxas escolhe gatos ou sapos como familiares, porém ela me escolheu ao invés de um animal. Demais, não?

A fada tagarelou a noite toda.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Internado - parte 2

Atado numa cadeira, Antônio acordou num quarto minúsculo. A cama ao lado, completamente suja, enojava o detetive. O piso estava umedecido, congelando seus pés descalços. Um cheiro forte o desorientava. Um ruído o atordoou por um momento e uma voz começou a falar.

– Antônio Marcos de Oliveira. Detetive do departamento de polícia da nossa capital. Bem vindo. Eu sou o Dr. Mohamed Nunes, diretor deste maravilhoso estabelecimento particular. Quem diria, hein? Você deve ser muito bom para descobrir a origem dos restos.

– Restos? - tonto, o investigador se esforçava para responder.]

– Os corpos que encontrou, detetive. O parabenizo pela sua astucia. Ou sorte. Infelizmente, seria uma lastima se nos impedisse. Ainda assim, por curiosidade, estudei o seu passado. Descobri que há três anos atrás participou da investigação de um piromaníaco, que custou a morte de sua namoradinha. Após isso, você entrou em depressão.

– Como sabe disso tudo?

– Isso não importa. O que interessa agora é que você está ruim, e como médico, é meu dever tratá-lo. Começando agora mesmo. E durante o tratamento gostaria de fazer alguns testes. Enfermeira Laura, por favor, dirija-se ao quarto 318.

Antônio notou usar não a sua roupa costumeira, mas um avental hospitalar. Uma loira, com cicatrizes nos braços e pernas, entrou na cela.

– Olá. Eu sou a Laura. - disse ela, abrindo um grande e alegre sorrizo - Eu mesma troquei sua roupa, sabia? Você até que é gostosinho.

A mulher subiu no colo do homem, encostando um bisturi no peito dele. Ela então encravou a lâmina em sua própria coxa e abriu uma ferida.

– Ah! Isso! - a enfermeira urrava de dor e prazer. Passou a mão no fluido vermelho que escorria, esfregando-o na boca de Antônio - Beba. É tão bom. Vamos fazer juntos. Sim!

– Enfermeira, pare de brincadeiras e trabalhe! - advertiu a voz do doutor.

– Aah... - decepcionada, inseriu uma seringa num frasco e sugou seu conteúdo - Hora do remédio, seu menino levado.

– O que está me dando? - perguntou ele, enquanto levava a injeção.

– Apenas algo para abrir sua mente.

A visão do policial ficou embaçada. Sentiu a mulher o soltando da cadeira. A voz ecoada de Mohamed o alcançou:

– Não se preocupe, sua visão voltará em alguns segundos. Vá para o quarto 140. Use o elevador. Não tente fugir, as portas estão trancadas, e estarei vigiando pelas câmeras do prédio. Se quiser bater um papo, espalhei escutas por todo o terreno. Estarei ao seu dispor.

Recuperando sua visão, Antônio iniciou sua jornada ao elevador. Algumas macas enferrujadas atrapalhavam seu caminho. Checou as portas, e realmente estavam trancadas. Nos corredores, viu várias linguas pregadas numa das paredes encardidas. Exalavam um odor terrível da decomposição, com moscas saltitando de uma em uma. Acima da carne podre, um aviso escrito em sangue:

“SILÊNCIO DENTRO DO HOSPITAL”

sábado, 16 de julho de 2011

Internado - parte 1

Sugiro para não se perderem http://felipeintruso.blogspot.com/2011/01/incendio-parte-1.html


Ruas imersas na escuridão. As lâmpadas dos postes piscavam freneticamente. Aquele teatro. Parecia familiar. Dos corredores, via uma luz provindo dos interiores, acompanhada de uma melodia. Passando silenciosamente pelas poltronas, alcançou o palco. Os corpos de um senhor e um garoto, pendurados nas cortinas, se contorciam com os olhos virados. Uma mulher de cabelos curtos tocava um piano flamejante. Sentiu ter ouvido aquela música antes. A pianista parou, virando-se. Levantou e aproximopu-se do expectador.

– Você veio. - a mulher o abraçou emocionada - Eu te amo tanto.

De repente, a face da moça tornou-se em carne viva, acordando o homem do pesadelo. Antônio, de bruços na escrivaninha de seu escritório, coçou os olhos e enxugou o suor da testa. Tentando manter-se acordado, analisava documentos de vítimas recentes. Procurou o remédio nas gavetas. Nada. Aqueles pesadelos. Terapias, medicamentos e ainda assim as visões continuavam. Doutor Pedro e seu filho, Roberto, cremados. Júlia suicidando-se com um tiro. O fogo. Cenas que se repetiam na mente do detetive. Pioravam a cada dia. Alguém entrou.

– Como vai a investigação, Antônio? - perguntou o chefe de polícia.

– Todas as vítimas foram encontradas com orgãos faltando, mostrando que o assassino é possivelmente o mesmo. Porém, a área de ação dele é muito extensa. Estamos empacados.

– Entendo. - o velho notou a feição triste do amigo - Olha, por que você não vai para casa descansar?

– Preciso não. - disse foliando os arquivos.

– Não foi um pedido. Eu sei que não é fácil perder alguém. Só que já fazem três anos, Antônio. Você precisa superar isso. Deve lutar e aceitar o que aconteceu.

– Quem me dera... - fechou tudo e guardou, lembrando da verdade que ele escondia sobre a falecida amada - Estou indo. Boa Noite.

– Boa.

A chuva comprometia a visão do homem. Cansado, ele dirigia vagarosamente, olhando ao redor do veículo. O que é pior afinal? Perder a amada, ou descobrir que era uma assassina? Chegando, encontrou um mendigo na entrada do edifício.

– Senhor Antônio? - perguntou o indivíduo.

– Sim. Como sabe meu nome?

– Os corpos. Sei de onde eles vem.

– Corpos? Os sem orgãos?

– Sim. Toda noite uma van deixa-os nas ruas.

– Uma van.

– Sim.

– E por que não avisou a polícia antes?

– Não me deixaram entrar. Então te segui até descobrir onde morava.

– Sei. È isso?

– Não. Tem um nome escrito na van. Centro Hospitalar Abarão Porciano Clife.

– Um hospital? Estranho... Obrigado pela informação. Gostaria de entrar? Comer algo?

– Não. Prédios me assustam. - o sujeito saiu aos murmúrios.

Antônio pesquisou sobre o local. Ficava distante da cidade, num campo fechado. O terreno cobria vários hectares, contornado por uma vasta floresta. Era caríssimo e exclusivo, tendo pouca popularidade. No dia seguinte, o detetive se dirigiu ao centro médico. Os portões principais estavam escancarados. Interfonou, sem receber resposta. Invadiu com o carro. Atravessando diferentes jardins, alcançou a mansão. Estatuas de bestas e pessoas desnudas davam boas vindas ao investigador. Uma recepção vazia o recebeu. Papeis espalhados. Espirros de sangue pelas paredes. Estaria abandonado? Decidiu vasculhar. Ao dar o primeiro passo, sentiu um golpe e desmaiou.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #8

Apoiado numa escrivaninha, analisava uma foto. Ainda se lembrava de cada detalhe daquele momento congelado no tempo. Ele, abraçado a Renata, acabava de pedi-la em casamento. Ela, com a ajuda do parceiro, terminava de construir Thiago. Melancólico, passava a mão nos cabelos grisalhos. Sobre a mesa, a máscara o fitava, mostrando suas dores e deveres estampadas na face avermelhada do demônio. Tirou o sobretudo, trocando-o por uma capa violeta, encapuzando-se.

– Você não vai para a Terra de novo, vai? - indagou uma aparição aquática em forma de mulher.

– Vou. Algum problema? - dizia o homem.

– Claro que sim! Acha que ir todo dia para aquela dimensão irá trazê-la de volta? Por que não fica aqui comigo? Podemos nos divertir um pouco. - a dama d’água acariciava o peitoral do sujeito.

– Agradeço sua boa vontade, Undine, mas é o que eu quero fazer por hora. - afastou as mãos dela.

– Pois bem. Estarei aguardando, meu amado mestre. - o espírito desapareceu.

Ignorando a espada e seu segundo rosto, Anônimo transportou-se para a Terra. Era noite. As ruas, pouco movimentadas. Saltando de prédio em prédio, foi até uma biblioteca. Sentou-se a beira do edifício. Observava a lua, recordando como ele a noiva costumavam visitar aquele mundo, cheio de maravilhas e surpresas. Ouviu um grito. Num beco do outro lado da rua, notou um tumulto. Uma moça em uma fantasia de couro apertada era abordada por um grupo de arruaceiros. Rodeando-a, os meninos a empurravam de um lado para o outro. Um dos membors notou a figura encapuzada emergindo na outra calçada.

– Perdeu alguma coisa amigo? - ameaçou o marginal, tentando o rosto do indivíduo. O mesmo não respondia. A vítima, desorientada, caiu no chão - Se pretende fazer alguma besteira, pode esquecer. Somos cinco contra um.

O homem continuou em silêncio. Um dos bandidos se aproximou dele e tentou empurrá-lo. Anônimo desviou, derrubando o garoto com um golpe. Após o ataque, todos os meninos partiram para cima dele. Um deles tentou esfaqueá-lo. O encapado desarmou-o e lançou a faca em outro oponente, enquanto nocauteava o primeiro. Entre murros e chutes, Anônimo derrotou os adversários. Um deles, afastado da briga, apontava uma arma para a garota.

– Afaste-se de mim seu louco! - gritava ele.

Anônimo fitou os olhos do garoto. Esse sentiu uma forte dor de cabeça, tendo alucinações. Assustado, disparou a arma e desmaiou. A bala acertou o homem. A moça tentava encontrar os óculos perdidos na escuridão. Anônimo pegou-os e os colocou na menina, que voltou a enxergar.

– Que...quem é você? - falou ela, espantada com a aparência sombria do justiceiro.

Sem responder, ofereceu a mão para ajudá-la. Ela ficou em pé, ajeitando os cabelos castanhos.

– Obrigada... seja lá quem você for. Eu sou Bruna, prazer - esticou o braço para cumprimentá-lo. Ele não se moveu.

– Você não deveria andar assim a essa hora da noite. - advertiu ele.

– Eu sei...Tudo aconteceu tão rápido. Numa hora realizo um dos meus desejos, na outra, sou abordada num beco. Que noite cheia, hein? - falava ela, ainda surpresa em beijar Thiago.

Anônimo cambaleou repentinamente, segurando o tórax.

– O senhor está bem?

– Sim. Não se preocupe comigo.

– Olha! Está sangrando. Vou chamar uma ambulância.

– Não. Sem ambulância.

– Mas você precisa de ajuda!

– Eu apenas preciso tirar a bala.

– Então... vamos para a minha casa. Ela não fica muito longe daqui. - a garota colocou o braço do homem nos ombros e o ajudou na caminhada.

Chegando em uma residência mediana, Bruna deitou o ferido no sofá e tirou sua roupa. Trouxe antibióticos e ataduras. Anônimo pediu uma faca. Agonizando, ele tirou a bala. A pequena enfermeira atou as faixas e fez um curativo. Deu alguns medicamentos para o paciente.

– Obrigado. - agradeceu ele, levantando-se.

– Por nada. Não vai descansar um pouco?

– Já me sinto melhor. E seus pais não gostariam de encontrar um estranho na casa deles.

– Eles viajaram.

– E não se importa de ficar sozinha nessa casa?

– Tudo bem. Estou acostumada. Eles sempre saem por causa do trabalho. É normal.

– E se alguma coisa acontecesse? - terminava de vestir suas roupas.

– Bem... - a moça não soube responder.

Passando os dedos na barba, o homem preocupou-se com a situação de Bruna. Do bolso da camisa, tirou um colar com um pequeno cristal rosado. Anônimo fez um gesto e disse algumas palavras em língua desconhecida.

– Posso? - disse ele, abrindo a peça.

– Ah...sim. - a nerd elevou os cabelos. O misterioso pôs o colar na jovem.

– Indiferente do que acontecer, nunca tire isso. Ele te protegerá de qualquer ameaça. Se precisar de mim, basta pensar que apareço sem falta.

– Certo... - confusa, aceitou o presente de bom grado - Eu não sei seu nome.

– Não precisa saber.

– Preciso sim. Você sabe o meu. Diga o seu agora.

– É...Danilo. - disse, colocando o capuz, receoso em revelar sua identidade.

– Mais uma vez, obrigada, Danilo.

O homem se dirigiu ao banheiro.

– Quando te verei de novo? - perguntou Bruna.

– Em breve. - Anônimo fechou a porta.

– Em breve quando? - ao abrir o sanitário, ele não se encontrava. Perdida com o repentino sumisso de seu salvador, Bruna sentou encostada na parece do box, admirando a misteriosa jóia que recebera.

De volta a base, Danilo tornou a observar a foto dele e de renata. Atento a imagem da amada, conversava com o objeto:

– Hoje conheci uma garota. Uma boa menina. Ela cuidou de mim. Lembra um pouco você na nossa época de escola. Queria que a conhecesse. Se não tivesse aparecido no momento certo, ela estaria morta. Infelizmente não pude fazer o mesmo por você. Por isso eu tenho que virar um deus. Assim lhe trarei de volta a vida, e juntos criaremos um novo universo. Um onde pessoas como Bruna não sofram mais. Não haverá injustiças, fome ou miséria. Quem se opor a nós, será eliminado. O DPI irá pagar por tirarem você de mim. Aguarde meu amor, logo nos uniremos para sempre.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #7

Thiago acordou em seu apartamento. Deitava-se ao colo de Diana. Essa explicou o que sucedeu. Anônimo os mandou de volta. Retornar ao local era inconcebível. Ele os expulsaria facilmente. A dimensão toda estava sobre o controle dele, como um deus em sintonia com sua criação. A Câmara de Iluminação. Ela fixou-se na mente do robô. Aquele conjunto de blocos e luzes lhe trazia paz. Renata até parecia estar viva. Diana sugeriu que ele se arrumasse, ou se atrasariam para a festa de Paulo. Decidiram ir com seus uniformes: Thiago como oficial, de branco; Diana em sua capa escura de bruxa, encapuzada.

– Você demorou. - disse Kamila, trajada de princesa, afastando o robô da maga.

– Oi para você também. - falou a feiticeira, passando os dedos em sua franja azulada.

– Vamos Thiago.

– Mas... - o garoto olhou para Diana.

– Tudo bem. Vou comer alguma coisa. - a moça saiu em direção aos salgadinhos sobre uma mesa.

Paulo, de cavaleiro, conversava com seus colegas na cozinha.

– Que festa mais sem graça, não? - dizia Kamila ao ouvido do anfitrião.

– Vocês não foram convidados. - respondeu o menino.

– Quem disse que eu queria?

– Se não queria, por que está aqui?

– Para ver os horrores de perto. E a sua acompanhante CDF, não veio?

– Não. Mas logo ela... - Paulo calou-se ao ver a belíssima garota de cabelos castanhos e óculos que entrava na residência, numa fantasia de mulher-gato justíssima.

– Bru...Bruna?! - balbuciou Kamila.

– Eu...era a única que eu tinha. - a menina se contorcia de vergonha, tentando cobrir as partes íntimas.

– O que dizia Kamila? Veja a gloriosa beldade que me acompanha. - gabava-se Paulo, apontando as curvas da suposta namorada.

– Grande coisa! Eu sou muito melhor. - retrucava a penetra.

– O escambau! - começaram a discutir.

– Aah...de novo não. - murmurou Bruna. Notou que Thiago a olhava com atenção. - Não olhe para mim desse jeito.

– Desculpe...são os def...sentimentos. - explicou ele.

– Sentimentos?! - a garota entendeu aquilo como uma declaração.

Thiago sentiu seu corpo estranhamente mover-se sozinho. Segurou na cintura da garota.

– O que está fazendo? - o rosto dela avermelhou-se no mesmo instante.

O robô fechou os olhos e lhe deu um longo e profundo beijo. A nerd, confusa, involuntariamente segurou a cabeça do garoto contra a dela. Os outros dois pararam de brigar, observando boquiabertos a cena. Beijada, a moça despediu-se num breve “tchau” e correu. Emocionada, o coração batia acelerado. Diana aparece carregando uma cesta cheia de coxinhas e estranha as expressões pasmadas de Paulo e Kamila. Vira-se para a máquina:

– Perdi alguma coisa?

terça-feira, 14 de junho de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #6

RP-6 terminava de recarregar suas energias. Saiu da cápsula e colocou o uniforme branco do DPI. Saindo do quarto, viu Diana observando a foto de uma mulher de jaleco na parede.

– Você deve sentir muito a falta dela, não? - disse a bruxa, virando-se para o robô.

– Ela me ajudou todo o tempo. Me sinto agradecido por ter construído a mim.

– Sente?

– Defeitos...

– Talvez esses “defeitos” existissem em você sempre. Apenas levou um tempo para aflorá-los. Esses sentimentos.

– Então, tudo não passa de uma função oculta do meu sistema?

– Pode ser. Se ela não tivesse morrido... Minha mãe também sente saudade. Eu jamais imaginei uma bruxa ter uma amizade tão forte com uma cientista. Os únicos amigos dela eram a Renata e um outro cara. O homem sumiu, restando somente sua criadora. Não sei porquê, minha mãe não gostava de falar no tal do homem que foi embora. - Diana pôs a capa e pegou a bolsa - Vamos?

– Sim.

O ruivo abriu um portal e os dois entraram. Pararam no cômodo empoeirado da última vez, quando Thiago resgatou Kamila. A maga abriu a porta lentamente e checou o corredor. Ninguém. Andaram sorrateiramente pelo edifício, procurando por pistas. De uma vidraça, encontraram o que parecia a área principal do prédio. Várias pessoas, hipnotizadas, trabalhavam na construção de uma máquina. Ao redor, guardas bem armados.

– Thiago, Olhe! - Diana apontava - É ele!

– Quem? Onde?

– O Anônimo! Bem ali. - por mais que a maga apontasse, o robô via apenas uma viga e dois seguranças.

– Não vejo ele.

– Como não? Está bem ali, entre aqueles dois guardas.

Thiago ia responder, porém percebeu não estar mais no mesmo local. Um ambiente esbranquiçado. Inúmeras caixas brancas formavam as paredes e o teto. Algumas brilhavam de cores diferentes a cada momento, formando um breve show de luzes.

– Bem vindo, RP-6. - falou uma voz.

Virando-se, o robô se deparou com um homem engravatado, num sobretudo negro, usando uma máscara demoníaca. Debaixo da capa negra, uma katana.

– Anônimo. - disse Thiago, fitando-o seriamente.

– Não se preocupe. Sua parceira está bem. Deixei uma ilusão sua e minha para distraí-la.

– Onde estou?

– Na Câmara de Iluminação. Aqui medito.

– Como encontrou esta dimensão desconhecida.

– Eu a criei. Era o único jeito de me esconder do DPI.

– Nós pensávamos que você se escondia na Terra.

– Vocês me encontrariam facilmente por lá. E mesmo criando uma dimensão nova, aqui está você, determinado a me impedir.

– Sim. Um dos seus servos tentou abusar de uma garota que eu conheço.

– Peço desculpas. Se serve de consolo, já puni meus seguidores por tais atos. Não acontecerá novamente. - o mascarado ajeitava a gravata.

Thiago tentou desferir-lhe um golpe, mas o homem rapidamente desviou e o golpeou com a bainha da espada. O garoto ficou imóvel.

– Não tente me impedir. O futuro de todos nós depende disso. E não pense que é o único a sentir falta da Renata. Agora vá. Sua amiga o aguarda. Em breve um novo deus surgirá, trazendo salvação a todos. Um deus sem nome. - Thiago sentiu sua consciência se esvaindo e apagou.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #5

Os estudantes entravam na sala e sentavam. Kamila conversava com Thiago sobre uma festa a fantasia na casa de Paulo. Bruna, duas fileiras depois, olhava o robô apaixonada, escondida atrás dum livro de literatura. A professora entrou, acompanhada de uma garota de mechas azuis.

– Silêncio, classe. - ordenou a tutora - Temos uma nova aluna.

– Olá! - disse a novata, abrindo um grande sorriso - Eu sou Diana. Espero me dar bem com todos.

– Você vai se sentar...

– Thiago! - a menina correu e abraçou forte o ruivo.

– Bem...parece que vocês se conhecem. Enfim, sente-se ao lado dele.

Diana alegremente se colocou na carteira próxima ao parceiro. Os meninos observavam-na admirados. Kamila, irritada, virou a face.

– O que faz aqui, Bruxa? - perguntava RP-6 durante o intervalo.

– Já falei para me chamar de Diana - advertiu a feiticeira.

– Sim.

– O Comandante mandou te ajudar na investigação. Lembra daquele sujeito que você prendeu? Ele sequestrou mais de 300 pessoas naquele mesmo dia. Infelizmente não informou o paradeiro das vítimas. Sabemos ao menos que ele tem uma relação com o Anônimo. Preocupados, me enviaram para esta dimensão. E aqui estou eu.

– Entendo. Quando enfrentei aquele infrator, percebi que estava em um plano desconhecido, fora desse e do nosso mundo.

– Aí complica. De que forma vamos encontrar o Anônimo se ele está em um local que não consta em nenhum dos dois mundos?

– Para perseguir o sequestrador, segui o rastro no espaço-tempo deixado por ele. Por precaução, armazenei as coordenadas no meu sistema.

– Boa. Assim facilita bastante.

Alguém se aproximou.

– Olá, senhorita. - disse paulo, beijando a mão da moça - Você aceitaria sair comigo?

– Não, obrigada. - respondeu ela.

– Por que não?

– Sem interesse. - segurou o braço do policial - O Thiago é meu único homem.

– Ah, ele de novo?! - o garoto saiu indignado.

Após as aulas, Kamila fez outra visita ao amigo. Chegando lá, foi recebida por Diana, que usava apenas uma toalha.

– O que faz aqui? E qual é a dessa toalha? - questionou Kamila.

– Vocês não...estavam fazendo aquilo, certo? - falou Bruna, acompanhando a garota.

– Que é isso gente. Eu estava tomando banho. Sozinha. Amigos de infância não podem morar juntos? - a maga deu passagem e as duas entraram.

– Morar? Você vai ficar nesse apartamento com o meu namorado? - Kamila ficou mais irritada ainda.

– Eu queria morar no mesmo apartamento que ele. - a estudiosa sonhava alto.

– Namorado? Que eu saiba ele é mais um escravo seu. - bateu no quarto de Thiago. O mesmo saiu, sem deixa-las ver o conteúdo do cômodo.

– Como pode deixa-la viver com você sem me avisar? - dizia Kamila.

– Ela é minha parceira. - disse ele.

– O que quer dizer com “parceira”?

– Gente...fiquem calmos, por favor. - recomendava Bruna.

– Quer saber, eu vou embora! - Kamila deixou-os, batendo os pés.

– De...Desculpe. - a nerd seguiu os passos da colega lentamente e fechou a porta.

– Ai ai...- suspirou a maga - Aquelas duas são realmente apaixonadas por você. Quem diria, hein? Isso me faz lembrar dos meus 100 anos de idade. Bons tempos. Você também se recorda, não é? Foi quando nos conhecemos.

– Sim. - afirmou Thiago.

– Eu era só uma criança ingênua. Você, pelo contrário, sempre foi o mesmo. Apesar de que...parece ter mudado ao vir para cá.

– Eu tenho passado por algumas falhas.

– Ah...falando nos velhos tempos, trouxe algo para você. - de uma sacola, tirou um uniforme de oficial branco. No chapéu e no distintivo encontravam-se as siglas “D.P.I.”

– Meu antigo uniforme... - segurou a roupa.

– Você fez 500 anos esses dias, e eu não sabia o que dar, então trouxe isso. Ouvi dizer que existem muitos problemas nesse mundo. Acho que deveríamos ajudar. Proteger os habitantes daqui, embora o DPI não se importe com o futuro desse planeta.

– Certamente... - o robô olhava profundamente a vestimenta - Obrigado.

– Algo errado?

– Não...Desculpe. São os defeitos.

– Eu gosto desses defeitos. - Diana abraçou-o por trás - Talvez assim eu finalmente tenha alguma chance.

– Chance do que exatamente?

– Ah...nada de mais.

domingo, 22 de maio de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #4

Educação física. As meninas jogavam vôlei, enquanto os garotos observavam. Kamila, sem participar da aula, sentava no canto da quadra, pensativa. Thiago faltou.

– Algo errado? - falou uma de suas amigas.

– Sinto falta dele. - disse a garota.

– Óbvio. Quem não sentiria falta de um gato daqueles?

– Não é isso. Parece chato sem ele por perto.

– Ué...Se importando agora? Pensei que servisse apenas para seus planos.

– Não diga besteiras.

– Você é quem sabe.

Kamila negava ter algum sentimento pelo menino. Porém, ela mesma percebia que gostava dele. Realmente queria vê-lo. Conversou com os professores e conseguiu o endereço do garoto. Após a escola, foi visitá-lo. Chegou em um prédio e subiu até a cobertura. Bateu na porta. Thiago a abriu. A moça entrou indiferente e sentou no sofá da enorme sala.

– Por que não apareceu hoje?

– Ocupado.

– Com o que?

– Estudando os defeitos.

– Fala sério. Para de dizer essas coisas estranhas. Idiota...Pelo menos com a CDF sei que não estava. Que apartamento grande. Você mora sozinho neste lugar?

– Sim.

– Onde estão seus pais?

– “Pais” não consta nos registros.

– Sem pais? Deve ser rico então.

– “Rico” não consta nos registros.

– Aaah! Que saco você hein! - Levantou e tentou abriar a porta próxima ao móvel. Trancada - O que tem aqui dentro?

– É onde eu recarrego.

– Seu quarto, quer dizer. Quero entrar.

– Entrada proibida.

– Por quê? Algo que não pode me mostrar? Já sei, tem um montão de revistas pornôs aí, né? Seu tarado...

– Vou no mercado comprar alimentos para nós. Aguarde.

– Tá...

Thiago não esperava a visita dela naquele momento. Ao retornar das compras, Encontrou o apartamento vazio. Apenas a bolsa que Kamila carregava se encontrava. O robô segurou-a por alguns segundos e a soltou. Encostou sua mão na parede. Um buraco luminoso surgiu. Entrou na passagem, indo parar em um cômodo empoeirado. Um homem despia a garota, desacordada sobre uma cama. O sujeito notou a presença do menino.

– Interessante. - dizia ele -Eu topei com muitas máquinas do DPI, mas nenhuma delas tinha a capacidade de atravessar as dimensões. Pena ter que te destruir. Você seria um grande objeto de estudo para nós.

– Qual o seu interesse nela?

– Nada de mais. Raptei quem eu precisava. Ela é só uma gostosinha que eu peguei para me divertir. É claro que uma lata velha não entenderia isso.

Thiago rapidamente se aproximou e tentou pegar Kamila.

– Nem pensar! - o criminoso sacou uma adaga de energia e cortou um dos braços do garoto fora. - Eu derrotei muitos da sua agência. Não pense que...

Antes que ele pudesse terminar, Thiago o desarmou com um chute e o lançou contra o chão.

– Como?! - o indivíduo não conseguiu se levantar com o choque - Como uma sucata pode se mover nessa velocidade?

– Essa informação lhe é irrelevante. - o robô tirou um pequeno cubo do bolso e o segurou na direção do homem - Em nome do Departamento de Polícia Interdimensional, você está preso.

O objeto brilhou intensamente, sugando as partículas do bandido para seu interior.

– Processo de confinamento concluído. - guardou-o e carregou a moça. Abrindo um novo portal, voltou para o apartamento.

Deitou Kamila no sofá. Uma garota encapuzada apareceu.

– Há quanto tempo. - ela tirou o capuz, mostrando suas mechas azuladas.

– Sim, Bruxa. - disse ele, erguendo o cubo - Capturei um criminoso. Pelo uniforme, provavelmente trabalha para o fugitivo.

– Entendo. - encostou o dedo indicador no objeto - O infrator foi transferido para nosso mundo com sucesso. Em breve o interrogaremos. Algo mais, RP-6?

– Meu braço esquerdo.

– Certamente. - a maga fechou os olhos e os tornou a abrir. - As peças foram enviadas ao seu quarto. Poderá usa-las na reconstrução do membro.

– Obrigado, Bruxa.

– Qual é. Nós passamos dessa fase parceiro. Você deve me chamar de Diana, lembre-se disso.

– Afirmativo.

A feiticeira ajeitou sua capa negra e desapareceu. Thiago sentou-se ao lado de Kamila, acariciando sua cabeça.

– Os defeitos...Sempre que estou perto de você...Preciso comprovar a origem deles.

sábado, 7 de maio de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #3

Era uma manhã fria. Os estudantes , agasalhados, se protegiam do frio e resistiam ao sono. Thiago, o único desagasalhado, chegava na escola. Notou um pequeno tumulto no pátio. Um grupo de alunas chingavam Bruna, caída no chão, e chutavam suas coisas.

– Você não é nada sua trouxa! - falou uma delas.

– O que acontece aqui? - Thiago interrompeu o abuso.

– Estamos mostrando o lugar dela.

– Lugar? Não compreendo.

– Ela deve aprender a não ficar no nosso caminho.

– E por que ela deveria?

– Ora seu... Se você não fosse tão gato...Vamos meninas.

Bruna pegou os óculos e colocou-os.

– Você está bem? - perguntou o garoto.

– Ah...sim. - respondeu ela.

– Não se machucou? - recolhia os livros espalhados.

– Não...Obrigada por me ajudar.

– De nada. - ofereceu a mão para levantá-la. Timidamente, aceitou a ajuda e ficou em pé.

– Sua mão é macia...quer dizer...obrigada, de novo. - envergonhada, abaixou a cabeça levemente. O menino passou a mão na sua face.

– Seu rosto ficou vermelho de repente. Tem certeza de que está bem?

– Si..Sim! - a menina, mais encabulada ainda, abraçou forte os objetos. O sinal tocou. - Ah...Melhor irmos para a sala.

– Afirmativo.

Entraram na classe. Kamila, sentada em sua carteira, fitava Bruna com raiva ao vê-la acompanhada do servo. Thiago se sentou.

– O que você fazia junto daquela CDF? - interrogou Kamila.

– Nenhuma atividade suspeita foi executada. Apenas a ajudei. - respondeu o robô.

– Sei... É só eu dar as costas que você vai atrás dela né? Seu tarado imprestável.

– Isso é irrelevante levando em conta que, de acordo com você, não tenho significado.

– Bem...Eu... - a menina calou-se.

– Eu encontrei suas amigas importunando a Bruna. Gostaria de entender porque.

– Aquela nerd...

– Ela fez algo ruim para você?

– Não.

– Então por que fazer aquilo?

Kamila refletiu sobre seus atos. Quase não prestou atenção nas aulas. No intervalo, conversou com suas amigas e foi ver Bruna. Essa sentava num banco, lendo um livro de Química.

– Posso falar com você?

– Tudo bem. - respondeu, fechando o livro.

– Eu...Me desculpe por como eu tenho te tratado. Nós não iremos te incomodar mais.

– Certo. Obrigada. - a jovem sentiu-se aliviada.

– E mais uma coisa...- Kamila apontou determinada para Bruna - Eu não vou perder para você!

Na saída, viu que Thiago a aguardava. Estranhava ele estar sem blusa desde cedo naquele frio.

– Seu doido. Vai pegar um resfriado desse jeito. - disse ela.

– Creio que não. - afirmou o menino.

– Falei com a Bruna. Pensei muito naquela conversa que tivemos e acabei pedindo desculpas. Nunca me imaginei fazendo algo assim. - tirou seu cachecol e o ajeitou no pescoço de Thiago - Pronto, assim você não fica doente.

– Meu sistema não possui tal função. Na verdade, ele tem apresentado defeitos ultimamente.

– Defeitos? Sistema? Queria entender o que você quer dizer com isso. Ai, deu frio agora.

– Eu irei aquecê-la. - Thiago segurou Kamila contra seu corpo.

– Você é...bem quente. - encostou a cabeça no peito dele.

– Interessante.

– O quê?

– É a segunda pessoa que eu vejo ficar vermelha hoje.

– Ah...É impressão sua! Bom, eu vou para casa.

– Não quer que eu te carregue?

– Não precisa. Tchau!

Thiago observou Kamila saindo do local, enquanto passava os dedos no cachecol. “Talvez seja essa a origem dos defeitos” - pensava ele. Pegou sua mochila e também saiu.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo final

Bárbara não sabia onde estava. Era um lugar completamente branco. Parecia infinito. O nada absoluto, ela diria.

– Por quê?

A moça virou para ver quem falava.

– Por que você se culpa tanto? - uma menina perguntava para ela.

– Eu...Quem é você?

– Sofia.

– Ah. Então é a senhorita que leva o meu corpo por aí durante o dia.

– Não foi culpa sua.

– Sei...

– Mas existe algo pelo qual você deveria se culpar.

– E o que é?

– Entristecer Bia e Cláudia.

– Como assim entristecer?

– Já reparou na preocupação que elas tem por você? No quanto se importam?

– Sim, eu...

– Sendo assim, não deveria se unir mais a elas e abraçar seu amor do que se ocultar num quarto?

– Sim... - refletiu e ficou decepcionada.

Sofia a abraçou.

– Deixe o passado de lado e aproveite quem está perto de você.

– Certo. Obrigada.

– Cuide bem da minha irmãzinha e da Clauclau. Poderia...se despedir delas por mim?

– Ahn?

Acordou na cama de um hospital.

– Irmã? - falou Bia, preocupada.

– Oi loirinha. Que aconteceu?

– Você caiu e machucou a cabeça. Nos deixou amedrontadas, sabia? - reclamava Cláudia.

– Desculpe. Eu não vou mais trazer problemas.

– Se sente bem?

– Não.

– Que foi? Sente dor?

– Eu nunca agradeci devidamente pelo que vocês fizeram por mim. Ficava tão focada na perda que esquecia. Me perdoem.

– Está perdoada! - a criança pulou na cama e abraçou forte a moça.

– Espera. São 8 da manhã. O que aconteceu com a Sofia?

– Se foi.

– Aaah, ela não volta? - indagou Bianca.

– Acho que não mana.

– Poxa. Talvez ela não tenha desaparecido. Ainda vive aí dentro. Sempre esteve em você.

– Pode ser, irmãzinha.

Para a surpreza das duas, Bárbara sorria. Nunca tiveram a oportunidade de ver aquele sorriso. E pela primeira vez, aquela garota tristonha ficou feliz. Maria deixou de ser uma tortura, e virou uma lembrança agradável. E para o bem dela, prometeu a si mesma que não iria chorar mais, e trazer felicidade à sua nova família.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo 8

Bianca, ajoelhada, falava com uma lápide. Sofia e Cláudia observavam. A menina encostou as flores no lugar e levantou. Saíram do cemitério e voltaram para casa. Já faziam alguns meses que Bárbara vivia na mansão com as duas. Sofia continuava uma criança brincalhona, enquanto Bárbara era a mesma amargurada. Ela disfarçava bastante, mas conseguiam ouvir seus prantos durante a noite, trancada no quarto. A moça não permitia a entrada. As vezes tentavam consolá-la. Ela ficava quieta, escondida em seu mundo infeliz e sem família. Família de apenas uma pessoa para ela. Maria. Passou a ter o hábito de trancar o quarto ao sair dele. Escondia algo dentro?

– Eu quero entrar no meu quarto! - queixava-se Sofia.

– Por hora, é melhor você ficar fora. As vezes tem coisa perigosa, e por isso trancaram a porta. - explicava a mulher.

– Quem? O que existe de tão perigoso?

– Eu não sei. Esqueça e vá se distrair.

– Tá...

Foi a melhor desculpa que Cláudia conseguiu arrumar. Como explicar que na verdade ela própria trancou a porta? Porém, a mulher estava preocupada. O que Bárbara esconderia naquele cômodo? Bia tinha aula de Francês, então não podia brincar com a irmã. Sofia rondou a casa toda. O tédio prevaleceu. Teve uma idéia. Passado algum tempo, Cláudia notou o sumisso da garota. Procurando, encontrou-a no quarto. De alguma forma Sofia conseguiu arrombar a porta. As paredes, cobertas de folhas de papel com desenhos de uma pequena menina morena. Maria?

– O que aconteceu?! - falou Sofia, indignada.

– Então era isso? - Cláudia analisava a cena.

– Essa menina...

De repente a moça colocou as mãos na cabeça, gritando.

– O que foi Sofia?

– Eu...é minha culpa - andando de costas rapidamente, a garota se afastava de Cláudia, indo em direção a sacada. - Me perdoe Maria, por favor!

– Cuidado!

Desorientada, Sofia trombou nas grades e caiu do segundo andar.

sábado, 16 de abril de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #2

Thiago estava na estação do metrô. Quem passava, olhava assustado aquele indivíduo completamente imóvel e inexpressivo. Uma garota se aproxima.

– Já aqui? - dizia Kamila - Pensei que chegaria primeiro. Que horas você chegou?

– 11 horas.

– Bem...eu sei que a gente combinou de nos encontrarmos nesse horário, mas não precisava aparecer exatamente às 11.

– Não compreendo.

– Ai, não começa com as suas bobeiras. Vamos logo.

Entraram e pegaram o transporte.

– Veículo interessante. - falou ele.

– O trem? Nunca andou em um?

– Não consta nos registros.

– Meu Deus! O que você faz o dia todo?

– Nenhuma atividade é executada.

– Aff...que vida hein. Acho que estou te levando para o caminho certo. Você está saindo, com uma linda garota ainda por cima. Dois coelhos numa cajadada.

– Nenhum leporídeo foi detectado na área do vagão.

– Leporídeo?!

No centro da cidade, Kamila conduziu o menino por todo o caminho, puxando-o pela mão.

– É aqui. - disse ela, parando na frente de um fast-food.

– Por que nos dirigimos até este local?

– Entre de uma vez! - a menina o empurrou. Enquanto ele fazia os pedidos, ela esperou numa das mesas, próxima da entrada. De repente, aparece Paulo e sua suposta namorada. - Fala!

– Você...- disse ele - O que faz aqui?

– Nada. Só dando um passeio com o meu namorado, sabe?

– Sei. Eu também vim passear com a minha. Ela é legal, diferente de certas pessoas.

– Adoro o meu. Bem melhor que um ex aí que eu tive.

– Ah, você é uma idiota mesmo hein!

– Idiota é você!

Ao voltar com os lanches, Thiago encontrou os dois brigando. A moça que acompanhava Paulo parecia assustada. Uma garota baixa, de óculos e cabelos castanhos .Observava aquela situação sem saber o que fazer.

– Eu vou embora! - Paulo saiu, nervoso.

– Volte! Você não me escapa! - Kamila seguiu-o.

Abandonada pelo acompanhante a menina ficou desolada. Ela olhava para Thiago, mas logo virava o rosto, encabulada. Tomou coragem e perguntou:

– Nós...não deveríamos ir atrás deles?

– Meus cálculos indicam que retornarão.

– Puxa...você é bastante inteligente. Quer dizer...eu... - a moça perdia a fala na timidez.

– Eles vão demorar. É recomendável que comamos. Seria um desperdício deixar a comida e sair.

– Bem...então...vamos comer.

A menina comia lentamente. Ele seguia seus movimentos, aprendendo como ingerir o sanduíche.

– Eu sou Bruna. - apresentou-se ela.

– Prazer em conhecê-la.

– Eh...o que você viu nela?

– Como?

– A Kamila...por que namora ela?

– Informação indisponível.

– Não sabe? Eu também não sei por que estou com o Paulo. Ele me levou, simplesmente.

– E por que você foi com ele?

– Eu...jamais fiquei tão perto de um garoto. Nunca beijei ou tive um namorado. Ele me atraiu facilmente. Não acredito que ele goste de mim, porém prefiro ficar com ele do que sozinha de novo.

– Estou confuso. Nesse caso não seria melhor andar com alguém que lhe dê mais valor?

– Talvez...

Kamila e Paulo voltaram para o lugar irritados. Cada um pegou seu par e saiu. De volta ao metrô, a moça olhava nervosa para Thiago.

– Não fez nada com ela durante minha ausência, né? - perguntou ela.

– Nós comemos e conversamos.

– Hum...bom mesmo! Não perdoaria uma traição. Não é que eu me importe, eu só...tanto faz tá bom! - a garota tentava disfarçar. No fundo ela se importava, embora não entendesse o motivo. Ela apenas o usava, ele não passava de uma peça importante no seu plano contra Paulo. Por que se importaria? Será possível que... - Não pode ser! Impossível!

– Há algo errado?

– Ora...não te interessa!

Desceram na estação.

– Bom...a gente se vê. - despedia-se ela.

– Tchau.

Começaram a se afastarem um do outro. Kamila sentiu uma coisa, Precisava se certificar de que era verdade. Correu para o garoto e o abraçou.

– Me abrace. - ordenou a moça.

Thiago rapidamente obedeceu.

– Pode me soltar agora. E lembre-se, você não tem valor algum para mim! Seu verme!

– Entendido.

Aquela sensação ao ser abraçada por ele. Por mais que negasse, era o que acontecia. E indo para casa, havia um único pensamento na mente de Kamila: “Me apaixonei...”

sábado, 9 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo 7

Cláudia estava contente. Encontrou Bia e Sofia deitadas na cama, abraçadas. Ou seria Bárbara dormindo junto da loira? Provavelmente as duas ficaram mais próximas na noite anterior. Despertaram e desceram para tomar o café da manhã. A mulher saiu para resolver os negócios antes pertencentes a mãe de Bianca.

– Onde está a Clauclau? - perguntou a morena.

– Ela tem uma reunião com os antigos sócios da minha mãe. - respondeu a pequena - Sofia...qual a sua primeira lembrança?

– Hum, sei não. Eu lembro de umas pessoas lambuzadas com um suco vermelho. Depois andei pela cidade, sem rumo.

– Não se lembra de mais nada?

– Não.

– Ahn... - Cláudia falou com ela sobre esse dia, quando começaram as trocas de personalidade da Bárbara. Sofia nem reconhecia as pessoas mortas naquela data, mesmo que fossem seus pais. Apesar de agora se dar bem com a moça noturna, Bia ainda percebia uma certa tristeza nos olhos dela ao conversarem. Por que ela se culpava tanto? Afinal, foi seu pai o assassino de Maria.

– Sabe o que é mais estranho? Também não lembro o que faço durante a noite. E outra, eu tenho 6 anos e sou maior que você. Sou quase da altura da Clau Clau. Como isso?

– Vai saber, né. - óbviamente Sofia não se lembraria. Ao anoitecer ela era outra garota. A verdadeira dona daquele corpo. O que isso fazia dela? Um fantasma? Uma mentira? Desconhecendo a sua inexistência, a moça conduzia sua vidinha infantil e alegre, indiferente de ser real ou não - A Cláudia vai demorar. Vou jogar vídeo game.

– Eu também!

– Você nem sabe como se joga.

– Ué, eu aprendo.

– Só quero ver.

Cláudia voltou para a mansão. Já havia anoitecido. Na escadaria, viu Bia sentada nos degraus, chateada.

– Aconteceu alguma coisa? - disse preocupada.

– Ela ganhou de mim...com o Blanka. Perdi minha honra. E pensar que eu usava o Ryu. - a menina abaixou a cabeça, decepcionada.

– Hein?!

– Da próxima vez uso o Akuma. Duvido ela me vencer novamente.

– Olha...eu vou subindo, tudo bem?

– Tá.

Antes de ir no escritório, decidiu passar no quarto de Bárbara.

– Está aí? - perguntou, batendo na porta.

– Sim. Só um minuto. - a garota apressadamente guardou algo e abriu a porta. - Em que posso ajudar?

– Apenas checando. Fazendo o quê? Ouvi um barulho e...

– Não é nada.

– Sei. Bom, se precisar, estou na minha sala.

– Certo.

Cláudia ficou curiosa sobre o que a moça escondia. Até Bianca foi impedida de entrar. A morena dizia estar ocupada. A criança então jogou vídeo game de novo, disposta a praticar e vencer Sofia. Cansada do “treino”, resolveu dormir. Na sua cama encontrou um boneco de tecido, provavelmente feito a mão e recentemente. Ao lado, um bilhete: “De Bárbara para Bia, minha querida irmãzinha”.

– Como ela fez isso tão rápido? - feliz com o presente, deitou-se e dormiu.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #1

Estudantes espalhados, conversando e rindo. Então todos os olhos se viraram para a garota que acabava de chegar. Num andar imponente, ignorando os observadores, Kamila, a menina mais popular do Colégio, passou pelos alunos e se juntou a suas amigas.

– Bom dia! - cumprimentou-as com beijos no rosto.

– Conseguiu alguém ontem? - perguntou uma delas.

– Não. Os garotos daqui são uns bobos e feios. Impossível achar alguém no nível do Paulo.

– É bom achar logo se fazer ciúmes nele.

– Eu sei. Acredita? O maldito disse que terminou comigo porque enjoou de mim. Idiota. Ainda estamos em Abril. Ele verá uma coisa.

Deu o sinal e foram para a sala. Kamila ajeitava o cabelo, ignorando a explicação do professor. Ouvem-se batidas na porta. Um garoto entra, pedindo licença. As alunas ficaram boquiabertas com a beleza dele. Trocou umas palavras com o homem.

– Atenção classe. Este é Thiago. Ele foi transferido para cá.

– Oi.

Apesar da fala breve e a expressão séria, as garotas derreteram com o comentário, tirando Kamila, distraída maquiando-se. Sentou-se justamente atrás dela. Nas primeiras aulas ele se mostrou extremamente inteligente, sem errar uma questão feita à ele. Completamente ereto, ficava calado e não apresentava emoções ou qualquer reação. Fazia as lições silenciosamente. Durante o intervalo, estava encostado na parede do corredor. Um grupo de meninas o espionava do outro lado. Para a surpresa delas, alguém se aproxima dele.

– Escuta aqui, - Kamila o encurralou - eu não sei qual é o seu joguinho, mas comigo não funciona.

Ele continuou quieto, olhando fixamente os olhos da moça.

– Você é um lixo! Nada comparado a mim.

Sem resposta.

– Qual é o seu problema hein?

– Procurando...

– Ahn?!

– Nenhum defeito foi encontrado no sistema.

– Aff, seu tapado. - Quando ia deixá-lo, lembrou de seu plano. Embora fosse estranho, o menino era realmente atraente. Cabelo ruivo e bagunçado. Olhos verdes. Alto , com uma pele lisa e clara. Perfeito para realizar suas pretensões. A garota abraçou-o, esfregando-se em seu corpo. - Você é bem gato sabia? Que acha de ficar comigo?

Após um longo momento, respondeu:

– Características insuficientes para definir-me como felino.

– Ai...- não desistiu - Eu acredito que quem cala, consente. Sendo assim, quer ser meu namorado?

– Informação indisponível.

– Levarei isso como um sim. Muito bem! - apontou o dedo para o rosto do garoto - A partir de hoje somos um casal. Não ouse me trair. - Segurou sua mão e o levou para o pátio. - Me carregue nos seus braços.

– Motivos insuficientes para executar a tarefa.

– Cala a boca e me pega logo!

O ruivo agarrou a menina e a ergueu. Ela jogava seus enrolados cabelos no rosto do escravo, procurando humilhá-lo. Não houve reação dele. Boatos imediatamente surgiram sobre os dois estarem juntos, como Kamila planejava. Ordenou que a levasse de volta para a sala. O olhar irritado que Paulo enviava para Thiago da última fileira fazia a menina sentir-se vitoriosa. Ela queria mais. Puxou o moço e deu um beijo em sua boca.

– Thiago, na sala não! - ela disse alto.

– Thiago! - gritou a professora - Não tolero essa atitude nas minhas aulas. Diretoria, agora!

– Afirmativo. - respondeu a vítima. Levantou e saiu.

Kamila achou que ficaria feliz, porém, sem saber porque, se sentiu triste com o ato. Na saída, Thiago a viu sentada próxima da entrada, e por razões desconhecidas de sua programação, foi até ela.

– Desculpe ter te causado problemas. - a estudante fitava o chão, arrependida.

– Já lhe informei que não foram localizados danos no sistema.

– Não levou uma suspensão nem nada?

– “Suspensão” não consta nos registros.

– Advertência?

– Não consta nos registros.

– Que bom. E você me perdoa?

– Informação indisponível.

– Aah, você e suas “informações indisponíveis”. - ela subia nas costas dele.

– Por que toma tal procedimento?

– Ora, para você me carregar. É meu namorado, esqueceu? E como punição por não me perdoar, me levará para casa. Satisfeito?

– Informação indisponível.

– Ai, me leva logo de uma vez!

sábado, 26 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 6

Bianca estava em uma das salas. Apesar da TV ligada, apresentando seu programa favorito, ela olhava confusa para uma folha de papel.

– Se não vai assistir, desligue. - recomendou Cláudia.

– Ah...Oi. - disse a menina, desanimada.

– Nossa. Que aconteceu?

Bia mostrou o desenho para a mulher.

– Olha só que perfeito. Quem fez?

– Bárbara.

– Talentosa. Então ela conversou com você.

– Um pouco. De repente ela saiu e deixou o caderno. Também fiquei surpresa. Achei que foi de propósito deixá-lo. Fui procurá-la e a encontrei chorando no corredor. Ela gritou comigo, correu e se trancou no quarto.

– E não me chamou?

– Pois é. Mesmo na hora em que conversávamos ela parecia nervosa e um tanto triste.

– Bom diaaaaa! - Sofia surpreendeu as duas aparecendo com uma toalha amarrada como uma capa e um balde na cabeça, segurando uma colher de pau.

– Por que está vestida assim? - perguntou a mulher.

– Eu sou uma super-heroína. Love raaaaaaaay!

Cláudia vira para Bia, olhando-a seriamente.

– Você é uma péssima influência.

– Não posso fazer nada se ela brinca como eu.

– Claro. Ô heroína? Depois do café se arrume. Vamos sair.

– Tá. - ajeitou o capacete e se dirigiu à cozinha.

– Onde vão?

– Um psiquiatra. Levando em consideração os problemas dela, seria bom procurar por uma solução.

– Verdade.

Mais tarde, se encontraram com o doutor. Cláudia explicou a situação para ele. Conversou com Sofia e pediu que voltassem durante a noite.

– Sente-se, por favor. - dizia o homem.

– Eu tenho mesmo que participar dessa porra? - indagava Bárbara.

– Sim.

– Bom...Eu não tenho escolha mesmo. Diga velho.

– Quando você começou a apagar durante o dia?

– Eu tinha 10 anos. Bem depois de...minha irmãzinha morrer.

– Como ela morreu?

– Sabe, meus pais eram uns vadios. Meu pai bebia e agredia minha mãe. De raiva, ela batia em mim. Apesar disso, eu e Maria eramos unidas. Vivia para protegê-la.

– Maria? Esse era o nome dela?

– Sim. Um dia meu pai chegou louco em casa e matou minha mãe na surra. Então ele pegou uma faca e se aproximou da minha irmã. Tentei impedi-lo, mas ele me derrubou e esfaqueou Maria. Furei o olho dele com um garfo, tomei a faca dele e o esfaqueei. - seus olhos lacrimejavam - Ela caída, espalhando o sangue no piso. Desesperada, pegava o seu sangue e colocava nas feridas, achando que cicatrizariam e ela voltaria milagrosamente. Fiquei lá, chorando, abraçando-a até estar quase amanhecendo. Não queria ver a luz do dia. Nunca mais.

– Quantos anos ela tinha?

– 6 aninhos. Adorava brincar. Correr. Ficava feliz por qualquer motivo. O meu maior desejo é ter ela de volta. Vê-la sorrir novamente. Era meu trabalho protegê-la, e eu falhei.

– Entendo. Isso é tudo, obrigado. Pode chamar a sua amiga, por favor?

– Amiga? Certo.

Cláudia entrou na sala. O doutor começou a falar:

– O trauma da morte de sua irmã é a causa. Ela se responsabiliza bastante pelo acontecido.

– Mas por que acontece? Não entendo.

– As vezes um trauma é tão forte que mexe com a cabeça de uma pessoa. No caso dela, seu desejo pela irmã e de não presenciar o dia levou seu inconsciente a criar uma réplica da menina para prevalecer durante o dia, e só pela noite voltaria ao normal. Foi um meio que sua mente arrumou para, digamos assim, manter Maria “viva”. Ela vai se recuperar somente se a culpa desaparecer.

– Obrigada por ajudar.

Ao retornarem, Bárbara foi direto para o quarto. Cláudia falou com Bianca sobre a situação. A criança resolveu ver a garota. Bateu três vezes na porta e entrou. A moça encolhia-se sobre a cama. Em volta, diferentes desenhos de uma garotinha de cabelos negros.

– Bárbara...

– O que você quer? - ela virou suas costas para a loira.

– A Cláudia falou comigo. A Maria...

– Não fale dela! Eu... - a morena foi surpreendida ao ser abraçada por trás.

– Eu sei que te magôo por lembrar ela. Não gosto de te ver assim. Você não precisa passar por isso sozinha. Portanto, por favor, embora eu não possa substituí-la, me deixe ser sua irmã agora.

Bárbara agarrou a cabeça da menina e a acariciou.

– Obrigada. - a moça, comovida, beijou levemente a testa da criança - Deixo sim.

A menina, alegre com a reação, segurou-a e apoiou sua cabeça no peito da amiga, sorrindo. Conversaram bastante. Bia terminou por dormir nos braços da companheira, que preferiu ficar parada para não acordá-la.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 5

Bárbara estava no quarto, pensando no que fazer. Ouviu passos.

– Olá. - disse Cláudia ao se aproximar - Fazendo o que?

– Nada. - respondeu a moça - Posso saber por que estou vestindo esse pijama ridículo?

– Nós compramos umas roupas para Sofia. Ela amou esse pijama.

– Imagino.

– Vai tirar?

– Não. Ela pode ficar triste quando acordar.

? Se preocupando com ela agora? Essa é boa.

– Ah, cala a boca. Para quê veio me infernizar afinal?

– Quero falar com você.

– Sobre?

– O que aconteceu ontem?

– Sei lá. Acordei numa cozinha molhada e vi um filho da puta tentando estuprar a loira. Dei um jeito nele e trouxe ela para cá.

– Deu um jeito?

– Digamos que ele está ocupado com uma pia. Mas por que pergunta logo para mim?

– Bárbara não lembra. Nem Sofia. Restou perguntar para você.

– Entendo. - mexendo nas gavetas do guarda-roupa, pegou lápis e um caderno. Sentou e começou a desenhar. - Também tenho umas perguntas.

– Diga.

Cadê a mãe da Bianca?

– Faleceu. Deixou tudo para mim, não sei porque. Nunca me tratava bem. Vivia me chamando de “crioula” ou “preta”.

– E não se demitiu? Eu já teria dado uma surra nessa vadia.

– Não fale assim. Eu fiquei pela Bia. Viramos grandes amigas desde que nos conhecemos.

– Ela é foda. Pena não nos falarmos tanto.

– Ela está no quarto dela. Que tal ir conversar com a menina?

– É uma boa idéia. Vem junto?

– Não. Tenho negócios para resolver.

– Certo.

Bianca assistia TV num cômodo rosa todo enfeitado.

Opa! - saudou a morena.

Oi. - disse a criança.

– Vendo? - sentou-se no colchão rosado.

– Desenho.

– Legal. Quer fazer algo?

– Já estou fazendo.

Ahn. - continuou desenhando. Levantou - Vou pro meu quarto. Se precisar, me chame. Boa noite.

– Até.

Bianca notou que a garota esquecera o caderno na cama. Ao abri-lo, encontrou um perfeito desenho de si mesma deitada, assistindo televisão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Sorvete de menta"

Está aí...minha primeira pintura. Foi de repente que decidi ter esse hábito. Eu gostava de pintar e desenhar desde pequeno, mas sempre me achei um péssimo desenhista e pintor. Ainda acho na verdade. Enfim, embora meus traços não sejam tão bons quanto o da minha amigona Suzi C. Lima (adoro os desenhos dela *--*), passarei a postar pinturas, além dos textos. Espero que gostem ^^.


Ahh é...tenho que explicar a pintura...quase esqueço XD


Bem. No momento em que pintei não tive nenhuma idéia em mente. Depois de analisar a obra, penso que queria mostrar a morte como algo comum, e que não impede as pessoas de viverem felizes antes dela. Porém, ainda que vivamos felizes, isso não tornará a morte uma coisa linda...não para mim ao menos :|...Ah sim, desculpem pela foto. Ela saiu muito clara por causa do flash. Agradeço :)

terça-feira, 8 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 4

Apesar da confusão passada, a manhã começou calma. Bia e Sofia brincavam no jardim. Cláudia observava de dentro da mansão. Elas riam e corriam na grama, como se nada tivesse acontecido. Estranhamente, Bianca não se lembrava de fugir, ou do que sucedeu depois disso. Sofia também. Restava perguntar para Bárbara. Como aquela pessoa alegre, brincalhona e infantil poderia, ao anoitecer, virar alguém tão sério, grosseiro, que nunca sorri e está sempre de mau humor? Qual seria a personalidade verdadeira? Era possível aquele corpo possuir consciências totalmente diferentes? Pensativa, Cláudia distraiu-se e não reparou no sumiço das duas.

– Buuh! - berrou uma voz.

– Aaaaaaah, meu Deus! - a mulher levou um susto.

– Heheee. Assustei a Clauclau. - falava Sofia, rindo. Levantou a mão - Bate aqui.

Quando Cláudia foi fazer o cumprimento, a morena desviou e bateu no braço.

– Ben 10.

– Aahn?! Que brincadeira sem graça foi essa?

– A Bibi me ensinou.

– Ai...porque não estou surpresa. Falando nisso, cadê ela?

– Se arrumando.

– Para quê?

– Ela disse que vamos sair. Comprar roupas.

– Mais? Ela já tem muitas.

– São para mim.

– Agora que mencionou, você precisa mesmo.

No shopping, Sofia olhava as vitrines admirada. Gostou de tudo. Principalmente de um pijama de bolinhas. De tanta admiração, acabou se separando delas. Um garoto chamou sua atenção.

– Iaí gata? - dizia ele.

– Gata? Eu amo gatos. Eles são tão fofos. Onde ela está?

– Bem aqui, na minha frente. Tá afim de uns pegas?

– Pegas? Hum... - a morena pensou - Ah, claro. - deu uma dedada no moço - Tá com você!

Ela correu gargalhando de divertimento, apesar do engano. O menino, confuso, ignorou e foi para outro alvo. Bia e Cláudia foram chamadas para a recepção. Encontraram Sofia.

– Onde você se meteu hein mocinha? - brigou a criança.

– Estava brincando. Acabaram me pegando. Eu sempre perco nesse jogo. Não é justo. - reclamou a moça.

– Aiai. Quantos anos pensa que tem afinal?

Sofia refletiu e mostrou seis dedos.

– Sei...Vamos para casa, garotinha.

Brincaram com as vestimentas, enquanto Cláudia aguardou o despertar de Bárbara. E o dia passou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 3

Pessoas amontoadas. Nenhuma delas era a que Bianca procurava. Há um bom tempo que andava. Ficou surpresa de ninguém tê-la encontrado ainda. Fugiu desde cedo, e já era quase noite. Um homem a abordou:

– Está perdida? - disse ele.

– Não. Com licença. - Bia tentou se afastar da figura.

– Espere aí. Está ficando tarde. Não acho seguro você andar por estas ruas no momento. Por que não vem na minha casa?

– Eu não costumo falar com estranhos.

– Que é isso. Eu tenho cara de alguém suspeito?

– Não...

– Então venha.

Bia acompanhou o cidadão bem trajado até uma pequena residência. Ele abriu a porta e deu passagem a loirinha. Entrando, ela viu uma pia transbordando e alguém conhecido.

– Bárbara! - a criança abraçou forte a companheira.

– Irmã! Obaaaaa! Mas meu nome não é Sofia? - disse a garota.

Ahn?

O homem trancou a porta e apontou uma arma para Sofia.

– Tire a roupa. Agora. - falou ele.

– O quê?! Pensei que fosse me ajudar. de mau! - começou a dar tapas no bandido e a gritar.

– Cala a boca! - deu uma coronhada e apagou-a - Droga. O jeito é fazer com você mesmo.

– Não! - Bia desesperou-se.

Ele a ergueu e jogou sobre a bancada. Ela ficou sem reação. Apenas chorava com medo. Enquanto o abusador abria o zíper e despia a vítima, distraiu-se com o apitar do relógio. Eram sete horas em ponto. Sentiu um puxão e foi jogado contra a parede. Deixou a pistola escorregar para o outro lado do cômodo. Se surpreendeu com a moça na sua frente. Tentou pegar a arma. Ela o lançou na pia, afundando sua cabeça na água. Se debateu. Logo parou. Largou-o e colocou as roupas de volta em Bia, desmaiada com o susto.

– Vamos embora, irmãzinha. - Bárbara montou a garotinha nas costas e saiu.

Felizmente, ela conhecia bem a cidade. Não seria um problema chegar na mansão. Pensava no que poderia ter acontecido. Sentia ódio só de pensar. Perguntava-se de onde vinha aquela dor enorme na cabeça. Teve raiva de Sofia, porém preferiu culpar a si mesma. Se tivesse ficado na propriedade, Bia não teria passado por tal situação.

Bianca! - Cláudia se alegrou ao ver a loira.

– Fica quieta! Não vê que ela tá dormindo porra? - falou Bárbara.

– Ai! Assim você que vai acordá-la.

Levaram a menina ao seu quarto. Colocaram ela na cama e a cobriram.

– Tem um lugar sobrando, se quiser dormir. - disse a babá.

– E perder o único momento em que fico acordada? Sem chance. - respondeu a moça.

– Eu vou. Boa noite.

– Boa noite...

Bárbara observava a lua da janela, aguardando a manhã chegar.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A dama da noite - capítulo 2

– Bárbara?! - Bia estava confusa.

– É...e que porra é essa? - a garota olhou para o vestido, estranhando. Rasgou ele todo, ficando apenas com a roupa íntima - Onde eu arrumo calça e camiseta nessa merda?

Apesar da surpresa com o nome e da grosseria daquela nova pessoa que surgiu, Cláudia se acalmou, chamou alguém e mandou buscar a vestimenta desejada.

– Está machucada? - perguntava Bárbara, arrependida.

– Não - respondeu Cláudia - Só me assustei. Obrigada por perguntar.

– Sem agradecimentos. Não mereço tanto. Eu fiquei com medo. Acordei num lugar desconhecido, com gente que nunca vi. Acabei reagindo agressivamente. Pra variar...

Bárbara arrumou-se e começou a comer a refeição inacabada de Sofia. Dessa vez, usando o garfo e a faca. As outras duas também sentaram-se.

– Como eu vim parar aqui? - perguntou a morena.

– Nós achamos você deitada na calçado e a trouxemos para dentro. O estranho é que quando chegou parecia uma criança. Ficava até me chamando de mamãe. - dizia a mulher.

– Hum...deve ter sido a outra.

– Outra?!

– Sim. Considerando que eu sempre acordo num lugar diferente, deve ter alguém controlando o corpo no meu lugar. Só sei que fico acordada de noite e apago quando amanhece.

– Nossa. Complicado hein. Eu sou Cláudia, e a loira pentelha ali é a Bianca.

– Por que parou quando me viu? - perguntou Bia.

– Você lembra minha irmã menor.

Legaaaaaaal! E cadê ela?

– Morreu...

– Ah, desculpe. E seus pais?

– Morreram...

– Eu sinto muito.

– Não sinta.

– Esse frango está ótimo, não? - Cláudia apressou-se em mudar o tópico.


Bárbara largou os talheres. Olharam curiosas para a moça.

– Acho melhor eu ir embora. - disse ela.

– Está tarde. É uma má idéia. - falou a babá.

– Eu já agredi uma! Não quero fazer mais merda ainda.

– Não vou deixar! - a garotinha pegou na perna de Bárbara e segurou firme - Eu quero minha irmã aqui.

– Me solta! - empurrou ela, fazendo-a largar.

Bárbara correu e saiu da propriedade. Bia ficou triste, não por ser derrubada, mas com a fuga da garota. Foram dormir. De manhã, Cláudia foi acordada desesperadamente.

– Dona Cláudia! - gritava uma mulher.

Aiai! O quê?

– A mestra Bianca...

– Que tem a Bia?

– Ela fugiu!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A dama da noite - capítulo 1

– Vamos! Estamos quase chegando! - a criança corria, ignorando a chuva caindo.

– Volte aqui! Você vai se molhar toda! - advertia Cláudia - E por que tanta pressa Bia?

– Quero assistir o anime.

– Como? Que é isso?

– É desenho japonês, boba.

– E que diferença faz o país?

Aah...chega de pergunta e vamos logo!

Bianca pegou na mão da babá e a puxou. Ao chegar nos muros da mansão, viram uma garota deitada na calçada. Respirava devagar, com os olhos meio abertos. Tremia, enxarcada.

– É isso! Temos que levá-la para dentro. - exclamou decidida a menina.

Aah, não sei não Bia. - disse Cláudia.

– Eu sou uma defensora da justiça! É meu dever ajudar os aflitos...sem falar que sempre quis uma irmã mais velha. É o destino!

Aiai. É hoje que sou demitida. Tá bom vai...

Ebaaaaa! Você carrega.

– Quê?!

Apesar do peso, Cláudia levou-a até o hall da enorme casa. Pediu à uma das empregadas que a lavasse.

– Você é uma “defensora da justiça” bem folgada sabia? - reclamou a mulher.

– A culpa não é minha se tu é a assistente. - respondeu a “heroína”, sorrindo orgulhosa.

Quando ia retrucar, Cláudia distraiu-se com os gritos da empregada. Uma moça nua apareceu, correndo. Encolheu-se na parede, a chorar. A criança se aproximou.

– Por que está chorando? - questionou a sabida.

– Medo...frio...Onde estou? - a garota soluçava.

Bianca abraçou a cabeça dela e acariciou seus longos e lisos cabelos.

– Calma...você está na minha casa...não tem perigo algum.

– Mesmo?

– Sim irmãzinha. Está tudo bem.

Ahn... - abraçou a menina - Você não é minha mamãe?

– Não...sou sua irmã. A sua mãe é... - olhou para Cláudia - Ela!

Vivaaaa! - pulou na mulher sem mais nem menos.

– O que?! Me solta sua louca! Você está toda molhada! E nua! Que tipo de pervertida você é hein? - logo acabou sendo derrubada. A morena não a soltava de jeito nenhum - Alguém põe uma roupa decente nela, por favor?

Colocaram um dos vestidos da mãe de Bia. Após todas estarem prontas, o jantar foi servido. A moça pegava a comida com as mãos e metia na boca.

– Já ouviu falar em talheres? - insinuou Cláudia.

– Talheres? - a garota não entendeu.

– Essas coisas de metal do lado do prato.

– Prato?

Aai...esquece.

– Irmã...qual o seu nome? - disse Bianca.

– Nome?

– É...como te chamam?

– De nada.

– Bem...e seus pais?

– Não sei...mas a minha mamãe é a Clauclau.

– Hum...nesse caso vou te chamar de...Sofia!

Sofiaaaaaa! Eeeeeeeh!

– Bom...se você não tem pais...acho que pode viver com a gente ?

De repente a moça parou.

– Sofia? - estranhou Bia.

– Onde estou? - ela olhou assustada para as duas.

Cláudia levantou e chegou na garota, que a pegou e lançou contra a estante envidraçada. Cacos de vidro quebravam no piso. Ela continuou empurrando a mulher contra o móvel, enforcando-a.

– Pare! - gritou a menina.

A moça encarou a loirinha. Abaixou a cabeça e largou a babá.

– Desculpe. - disse ela, ajudando Cláudia a se levantar.

– Por que fez isso Sofia? - indagou enquanto levantava.

– Sofia? Meu nome é Bárbara!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Glicose baixa

Durante as compras no mercado, resolvi levar um bom bom. Entrei na área açucarada e escolhi o menos abatido. Reparei no tamanho enorme da fila do caixa, mas não desisti. Peguei e aguardei.
A paciência era uma anã. Os minutos andavam mais devagar que o usual. Pensei no doce como uma recompensa no final da longa jornada. Me concentrei apenas nele. Ignorei a linda moça do outro lado da rua; a mosca que trombou no meu ouvido; a desgostosa “música” que vinha de fora; o momento em que todos paramos porque deu um problema na máquina, que logo foi resolvido; a conversa desinteressante entre duas senhoras sobre uma tal de “vizinha”.
Chegou a minha vez. A mulher, desanimada, passou a mercadoria e disse o preço. Paguei e saí. Enfim, o momento de saborear meu chocolate. A hora que tanto esperei desde o início daquela marcha. E na ansiedade de puxar as extremidades do embrulho para abri-lo, escorregou e caiu na boca de lobo.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O amante

Chegou cansada do trabalho. Tirou os sapatos, abriu a geladeira e pegou uma garrafa d’água. Deu uma golada e colocou-a no lugar. Foi ao banheiro. Apoiada na pia, observou a expressão exausta da mulher do outro lado do espelho. Virou-se para o chuveiro. Arrancou as roupas e entrou. Lá dentro estava ele, a esperando.
Conduzida pela parceira, esfregou-se no corpo dela. Apalpou seus seios. Desceu até o umbigo, massageando a barriga. Passou para trás e escorregou pelas suas coxas até os pés, beijando-os. Terminado o banho, ela o pegou e guardou de volta na saboneteira.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma Família

A mãe cortava os vegetais concentrada. Sua filha assistia curiosa, sentada na cadeira com as pernas penduradas. Ajeitou sua boneca na mesa para que assistisse junto dela.

– Queria saber porque ele tem que fazer aquilo logo hoje. - reclamava a mulher - Não podia deixar para o fim de semana? Michele, vá chamar seu pai. O jantar ficará pronto em breve.

Cuidadosa, a garota descia as escadas, dirigindo-se ao porão. Balançava o brinquedo, cantando alegremente. A porta estava fechada. A criança era baixa demais para alcançar a maçaneta. Nem sua amiga conseguiu resolver o problema. Ouvia-se gemidos abafados vindos do outro lado. Bateu na porta. Ela abriu.

Oi meu anjo. - dizia o pai.

– A mamãe falou que daqui a pouco servirá o jantar. - informou a menina.

– Certo. Eu já estou terminando aqui.

Entrando, viu um homem preso numa maca, com um pano amarrado entre os dentes. O pai pegou um facão e decapitou-o. Guardou a faca e foi se lavar. A garota olhava o morto sangrando.

– Papai, porque sai suco das pessoas? - perguntava a pequena, inocente.

– Eu não sei. - disse ele - As pessoas são assim querida.

– E porque você faz isso com elas?

– Para me distrair. Me entreter.

– Então é assim que você brinca?

– Isso mesmo queridinha. - deu uma curta risada.

Aaah! Eu queria brincar com o papai! - iniciou um choro e esperneou.

– Calma filhinha. Eu prometo que da próxima vez te trago e brincamos juntos.

– Promete? - enxugava os olhos.

– Sim. Vamos subir agora. - Colocou-a nos ombros e foi para a cozinha.

Os pratos estavam servidos. Assentaram-se e começaram a comer. A menina fatiava seu bife. Gemia baixo, fingindo serem gritos de sua vítima dentre os legumes.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Costumes

– Já faz um bom tempo, ? - lembrava ela.

– Pois é. - concordava ele - Parece que foi ontem que nos conhecemos.

– É mesmo. Eu sempre rio quando recordo.

– Eu também. Só de pensar em você encostada naquela árvore, pensativa. Depois eu, fingindo querer uma informação, apenas para poder conversar contigo.

– Achei aquilo muito besta. Acabei gostando de você.

– Ao menos valeu a tentativa.

– Com certeza.

– Desde então, apesar de sabermos que esse momento chegaria, aproveitamos cada dia de nossa união.

– Passou tão rápido. Agora a hora chegou.

– Eu sei. As vezes eu queria que não chegasse. Continuar com você. Ver meus filhos nascerem e cuidar deles.

– Querendo ou não, devemos fazê-lo. Nossa espécie faz isso há gerações. É uma tradição. Você sabe.

– O importante é que meu amor por você não mudará.

– Nem o meu.

– Pode contar para eles sobre mim?

– Claro que conto. Prometo. Nem precisava pedir. Vamos? - ela perguntou com uma feição triste.

– Sim.

Após acasalarem, a Dona Aranha matou seu marido.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Incêndio - parte final

– Como assim, estou falando com ele? - Antônio ainda não compreendia a situação.

– É exatamente o que ouviu. - afirmava Júlia - Eu matei os dois.

– Não pode ser. Sem chance! Por que você os mataria?

– Eu tenho os meus motivos.

– Que motivos? - o detetive aumentava seu tom de voz.

– Vingança. - a assassina pegou a partitura no piano e levantou do assento. - Como já sabe, Pedro e eu estudamos juntos naquela escola por um bom tempo. Durante esses anos, ele me fez de um objeto de divertimento. Toda hora me ridicularizando na frente dos colegas e professores. Não tive um só amigo naquela época por causa dele. Odiava ele, mas nunca tive coragem de atacá-lo. O garoto me infernizou até o final dos meus estudos. Saindo da escola, me senti aliviada. Pensei que não o veria novamente, e que ele não alcançaria nada na vida com seu jeito grosseiro.

– Até descobrir que ele se tornou um médico.

Exato. Não poderia perdoá-lo por me torturar e tornar-se um doutor tão renomado. Porém, não bastaria queimá-lo e ir embora. Precisava causar uma dor enorme nele. Matar seu filho era a melhor maneira de fazê-lo sofrer. Resolvi entrar para a polícia. Me transformar numa investigadora. Ninguém suspeitaria de mim se fizesse parte da investigação do crime que eu mesma cometi. Só não contava com uma coisa.

– O que?

– Me apaixonar por você.

– Por que está me contando tudo isso? - lágrimas escorriam no rosto de Antônio.

– Por que eu te amo. E por mais que tentasse, não aguentava esconder isso de você. Sabia que me procuraria se eu sumisse. Então deixei o corpo e o bilhete no meu apartamento, para te atrair e contar toda a verdade.

– Eu não acredito! Como pôde? E quer que eu aceite numa boa, é?

– Bem que eu gostaria. Contudo, conhecendo seu apego pela justiça, provavelmente não. - Júlia também passou a chorar. Largou a partitura e sacou um revólver. Apontou para a própria cabeça.

– O que vai fazer? Não faça isso Júlia!

– Eu sempre sonhei em morrer incendiada. Vejo que não será mais possível. - engatilhou a arma.

– Pare!

– Amo você. - e atirou.

– Eu...também. - Antônio caiu de joelhos, amargurado.

Os policiais passaram no apartamento da detetive e acharam o bilhete. Seguiram o endereço marcado e chegaram no teatro. Não encontraram os investigadores lá dentro. Antônio se retirou antes de aparecerem. Levou a amada para a casa dele. Nos fundos, colocou-a sobre uma mesa. Pegou uma garrafa e derramou seu conteúdo na mulher. Acendeu um fósforo e o jogou nela. Chorando, observou o fogo consumi-la.

– Como você sempre sonhou.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Incêndio - parte 4

Antônio se desesperou. Respirou fundo, procurando acalmar-se. O que faria? Pensou rápido e ligou para a polícia, informando ter achado o Dr. Pedro. Saiu do apartamento e seguiu para o endereço. Não levou o bilhete. Conhecia o local do encontro.
Chegou em um teatro abandonado. Há muito tempo, houve um incêndio durante uma apresentação. O fogo espalhou-se rapidamente. Poucos sobreviveram à tragédia. Desde então, o lugar foi fechado. Embora o incidente tenha danificado boa parte do estabelecimento, ele continuou de pé. O detetive percebeu uma melodia vindo de dentro. Entrou, seguindo o som. Enquanto andava, tropeçou em alguns galões de combustível vazios. Foram usados recentemente. No palco, viu alguém tocando piano. Ao se aproximar do instrumento, o investigador ficou espantado. Não com a bela música, mas com o indivíduo que a produzia.

– Eu nunca te contei que tocava piano, ? - dizia a moça, finalizando sua música.

– Júlia?! - Antônio estava confuso - O que aconteceu? Onde está o assassino?

– Está falando com ele.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Incêndio - parte 3

As chamas cobriam a casa. Antônio não conseguia contatar Júlia. Os bombeiros atiravam água com suas mangueiras. Após apagarem o fogo, o investigador entrou. Não encontrou o médico lá dentro. Estaria no hospital? Decidiu procurá-lo. Chegando no local, perguntou pelo doutor. Disseram não tê-lo visto desde manhã. O detetive ficou preocupado. Sabia que o incêndio não foi acidental. Entretanto, nenhum dos vizinhos viu alguém estranho entrando ou saindo da residência. Na delegacia, falaram que o Dr. Pedro não apareceu para o reconhecimento do corpo. “Isso é mau.” pensava ele.
Incomodava-se também com a parceira. Ela não atendia o celular, nem o telefone residencial. Foi até o apartamento dela. Tocou a campainha. Duas. Três vezes. Sentiu cheiro de algo queimando. Arriscou girar a maçaneta. A porta estava aberta. O odor vinha do banheiro. Dentro do box, um cadáver em chamas. Antônio apressou-se em ligar o chuveiro. Brevemente, o líquido esfriou o defunto. Notou um bilhete sobre a pia. Nele, um endereço, acompanhado de um recado: “ Venha, ou ela ficará como seu amigo aí”.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Incêndio - parte 2

Antônio acordou e notou que a namorada não se encontrava na cama. Júlia estava na sala, tomando leite e assistindo desenho. Disse “Bom dia!” e sentou no sofá.

– Tive um sonho ótimo! - falou a moça, entusiasmada.

– Sobre o que? - perguntou o dorminhoco.

– Fogo.

– E isso é um sonho “ótimo”?!

– Eu fiquei excitada. Você sabe que eu adoro fogo. Não existe algo mais lindo.

– Você e sua obsessão por fogo. - ele observou a bagunça do quarto - Se isso te excita tanto, vou acender uma fogueira da próxima vez que transarmos.

– Besta... - Júlia terminava sua bebida - Ligaram dando notícias sobre o corpo. Foi identificado. É mesmo o tal do Roberto.

– Entendo. É hora de darmos mais uma visita ao Dr. Pedro.

A primeira vez em que os investigadores visitaram o médico foi em razão do sequestro do menino. A situação agora era outra.

– Vocês de novo?! - reclamava o doutor, com os olhos lacrimejando.

– Vejo que recebeu a notícia. - dizia Júlia.

– Recebi. E daqui a pouco o verei, portanto, sejam rápidos.

– Certo - concordou Antônio - Conhece alguém com motivos para matar seu filho? Alguma pessoa que não gostasse dele, ou do senhor?

– Não. Dificilmente conversava com ele. Ficava no hospital o tempo todo. Acabei deixando-o de lado. E agora... se foi.

Pedro começou a chorar na frente deles.

– Nós o deixaremos em paz. - a detetive tentava consolá-lo - Sentimos muito por sua perda.

Enquanto saía, um pensamento passou pela mente de Antônio.

– Vocês estudaram naquela escola, não estudaram?

– Estudamos. - contava Júlia - Na mesma turma por várias vezes. Porém, não éramos tão próximos.

– Consegue lembrar de alguém daquela época que fosse contra o atual doutor?

– Desculpe, não.

– Isso dificulta as coisas. Vamos para a delegacia e...

– Vá você. - interrompeu ela - Voltarei para casa. Tenho uns assuntos a serem resolvidos. Mais tarde eu apareço por lá.

– Tudo bem. Nos vemos depois.

O detetive se despediu e seguiu seu rumo. A investigação não andava bem. Nenhuma digital ou vestígio do assassino foram encontradas na cena do crime ou no bilhete que ele deixou. Sem falar na falta de suspeitos. Não havia um. Enquanto trabalhava, um policial se aproximou.

Detetive, acabamos de receber um chamado...

– Do que se trata?

– Um incêndio.

– E eu tenho cara de bombeiro?

– Não, senhor. Mas acontece que é na residência do doutor Pedro.