quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Intangível

Quanto tempo faz que estou aqui? Nem lembro mais. Não sei de onde vim. Como surgi. Ou aprendi o que sei hoje. Minha primeira lembrança é de estar em frente a uma lápide. Usava um uniforme escolar. Havia algo escrito nela. Um nome. Janice. Não conseguia tocar nada. Mesmo o chão era intocável. Apenas planava sobre a grama escura do cemitério. Confusa, vasculhei o local e encontrei uma senhora. Tentei falar com ela. Não escutava. Cutucá-la. Atravessei. Procurei por mais pessoas. Inútil. A situação se repetiu com todos. Magoada, vaguei pelos prédios, pensando no por quê daquilo. Vi uma garota usando o mesmo uniforme. Decidi segui-lá. Encontrei a escola. Fui com a garota até a sala de aula. Não prestei atenção na matéria. Tinha um garoto muito triste. Quando acabou, saí junto dele. Foi para uma barraca comprar flores. Depois, para minha surpresa, ao cemitério. Justamente no túmulo em que me encontrava. Ele as deixou encostadas na lápide. Quem foi aquela Janice? Algum parente? Talvez fosse uma namorada. Passei a andar ao lado do menino. Visitou ela várias vezes. Mas logo parou. O garoto se tornou um homem. Casou-se. Senti pena da Janice. Ele parecia amá-la tanto. Cansei do cara e viajei sozinha de novo. Conheci o país. O mundo. Ainda assim, sempre gostei mais de ficar naquele cemitério. Me sentia em casa. Vivi tanto tempo. E tem coisas que nunca pude fazer. Queria sentir o vento. Comer. Dormir. Tocar. Queria ter conhecido a Janice. Como será que ela era?

sábado, 4 de dezembro de 2010

Mudança de "vida"

E assim foi ela...

Acordar morto de sono. Me arrumar. Pular o café da manhã, pois não era a fome que me matava no momento. Ir para a escola com os olhos meio abertos. Dizer olá para os amigos, tão mortos quanto eu. Morrer de tédio ao ouvir um professor falando, e de rir com as piadas internas durante as conversas na sala. Ver outro entrar morrendo de raiva da aula anterior e querendo matar os alunos que atrapalharam sua aula. No intervalo, matar a fome, que demorou a aparecer. A sede as vezes morria junto. Depois era passar as últimas aulas morrendo de vontade de sair logo de lá. Me despedia dos colegas, voltava para casa, ficava por um tempo e partia para algum curso. Chegar de noite em casa. Encontrar a mãe morta por saber que o marido só chegaria tarde da noite. Esperar com ela, que morria de preocupação. Até entrar ele, mais uma vez morto de tanto trabalhar. Ela o seguia, e já que eu não precisava mais estar lá, ia dormir, aguardando por mais um dia de mortes.

Foi bom enquanto durou. Agora devo morrer por outros motivos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Atenção

Acordei numa sala. Nela havia um jarro d’água. Não tinha portas nem janelas. Nada estava lá dentro além daquele jarro d’água. Procurei uma saída. Tentei cavar um buraco no chão, nas paredes. Não deu certo. Perambulava pensando em outra opção, ao mesmo tempo em que encarava o recipiente. Cansado do silêncio, comecei a falar com o objeto, e ainda esperava ansioso por uma resposta, mas era só um jarro d’água. O que ele poderia falar para uma pessoa tão insana. Preferiu calar-se e cuidar da própria vida. A fome corroia o meu corpo. Aos poucos bebia o conteúdo da vasilha. Logo o líquido acabou e a sede tornou-se insuportável. E o pior de tudo foi aquela coisa não dar um pio. Apenas ficava ali, parada, mostrando o outro lado através de seu corpo transparente. Insistia para que dissesse algo. Ela não estava a fim de papo. Desisti e fiquei olhando. O solo poderia me acolher. Os muros me consolar. Minha atenção dirigia-se ao jarro. O tempo passou. E de tanto observá-lo, me irei e quebrei-o. Quando percebi o que fiz, já era tarde. Estava sempre o pressionando. Exigindo algo dele. Tomando suas posses. Não havia o que exigir. Tudo o que podia era ficar parado. Não passava de um pobre e frágil jarro d’água.

domingo, 17 de outubro de 2010

Início

Havia duas irmãs: Morte e Vida. Realmente se amavam. Adoravam conversar. Era a única coisa que faziam.

– Estou farta de papear! - reclamou Vida por um momento.

– E ... o que sugere? - perguntou Morte, assustada com a reação dela.

– Eu vou lá saber!

Morte agachou-se no vazio pensativa. Vida andava em ziguezague impacientemente. Quando resolveu irritar a irmã, notou que ela segurava algo. Uma esfera.

– O que é essa coisa? Como fez isso? Serve para que? - Vida não parava de indagar com curiosidade.

– Eu não sei! - respondeu Morte, irritada - Eu só imaginei e apareceu.

– Parece tão sem graça.

– Deixe suas críticas para depois. Verei o que posso fazer com isso.

– Desculpe. Vou ficar assistindo quietinha. - Vida ria inocentemente.

– Assim espero.

Morte pensou mais e logo o globo se cobriu de um líquido azul.

– Terminou agora? - dizia Vida, ansiosa.

– Quando estiver pronto, avisarei. Você não ia ficar em silêncio?

Opa! É verdade...

Morte continuou. Criou extensões de terras em vária partes do objeto. Encheu-o de inúmeras formas de vida. Estava terminado. Vida tomou-o das mãos da irmã.

– Cuidado! - advertiu Morte.

– Fique calma. Só quero brincar um pouco com ele.

Deixou-a se divertir e foi descansar. Passado algum tempo, ela foi checar como os dois estavam. A criação estava diferente. Agora era repleta de construções de concreto. Uma única espécie dominou quase que o objeto inteiro. Notou que faltava uma boa parte dos demais seres que criou. Também percebeu que todos amavam profundamente sua irmã, enquanto ela era detestada. Ninguém a desejava por perto.

– Quer brincar agora? - oferecia Vida.

– Não ... pode ficar com ele.
Morte virou-se e caminhou de cabeça baixa para o outro lado do universo. Vida continuou observando o brinquedo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Meu herói..."

Já fazia um tempo. No começo achou que fosse apenas impressão. Mas depois estava evidente que aquele homem realmente a estava seguindo. Parecia familiar. Lembrava de tê-lo visto no trabalho. Foi lá que tudo começou. No começo, o estranho apenas a observava. Então passou a segui-la também. Nas ruas, a mulher não tinha um momento de paz. Não importa o que fizesse, o infeliz se impregnou na cabeça dela. O que ele queria afinal? Estaria tão apaixonado a ponto de persegui-la? Não. Devia ser algum psicopata. Vigiando e analisando sua vítima até encontrar uma oportunidade e dar o bote. Certa noite, ela foi atravessar para a outra calçada. Distraída, tropeçou enquanto um carro se aproximava em alta velocidade. O veículo brecava inutilmente. E no que parecia o último momento de todos, ela sentiu alguém a puxando. Era o perseguidor. Salva por aquele homem, ela sentiu-se realmente atraída por ele. Talvez ele até sentisse o mesmo com aquela ação. Perguntou-o:

– Por que me salvou?

– Ora, muito simples - disse ele - Porque EU que vou matá-la.

Com a mão enluvada, sacou uma arma e atirou na moça. Largou a arma. Pegou um pirulito. Desembrulhou-o. Colocou na boca e saiu calmamente da rua.

domingo, 12 de setembro de 2010

Remorso

Uma abelha rainha havia se apaixonado por um zangão. Eles se uniram e reinaram toda a colmeia. Viveram muito tempo juntos, até que a rainha descobriu que o zangão estava traindo-a com outra. Ela ficou arrasada. Apesar de já ter percebido a descoberta, o traidor agia normalmente. A rainha sofreu por um longo período. Continuava vivendo com o zangão, como se nada tivesse acontecido. Ao menos era o que parecia. Ela seduziu-o e o matou em seus aposentos. Achou que resolveria. Que aquela dor iria embora. Mas não foi. Ainda assim, precisava fazer alguma coisa. Não deixar que isso acontecesse novamente. Nem com ela, nem com ninguém. Pensou bastante. Decidiu o que faria. Dessa forma, convocou uma reunião apenas entre as abelhas. Zangões não podiam participar. Logo, todos eles foram colocados para fora. Os que tentaram entrar foram mortos. Desde então, foi decretado que, após o acasalamento com a rainha, os zangões deveriam ser expulsos e mortos.

domingo, 29 de agosto de 2010

A morte do pão francês

Era de manhã. Edmond acordou no meio de outros pães. Estavam todos presos em algum tipo de prisão de papel. Ele conseguia ouvir alguns ruídos vindos de fora. Alguém provavelmente estava do outro lado. Na confusão, uma abertura surgiu, e uma mão apareceu. Os prisioneiros ficaram desesperados. A mão se aproximou e pegou Edmond. Estava assustado. Pediu por ajuda. Mas os pães demonstraram apenas uma expressão de alívio. Entrou em desespero. Foi colocado no chão. Parecia ser de porcelana. A mão saiu e logo voltou com uma serra. Então outra mão apareceu e segurou Edmond contra o solo. Ele olhava para a lâmina assustado. A que estava com a arma se aproximou e começou a serra-lo ao meio. Gritava. A dor era indescritível. Estava quase pela metade. A mão parou de cortá-lo. Ainda estava consciente. Por poucos segundos, Edmond sentiu-se bem. A mão largou a lâmina e passou a arrancar as entranhas dele. Agonizante, ele se perguntava porque aquilo estava acontecendo. Qual era o sentido de toda aquela tortura. Já arrancadas, a mão colocou as entranhas longe de Edmond. Agora enfiava pedaços de carne no lugar. Ele não ligava mais. Não havia solução. As mão juntaram as duas metades e levantaram ele no ar. Olhou para frente. Via uma boca. Cheia de dentes fortes e afiados. Seria facilmente esmagado por eles. Edmond fechou os olhos e se entregou ao seu terrível fim.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fábula atual

Renato era um jornalista. Ele estava apaixonado pelo colega de trabalho. Não poderia declarar-se ao amigo, pois esse era hétero. Na verdade, ninguém sabia de seu segredo. Aparentemente não havia nada em Renato que trouxesse alguma suspeita sobre sua opção sexual. Pensando nisso, certo dia, ele foi a um bar literalmente “afogar as mágoas”. Bebeu tanto que acabou sendo expulso do botequim. Seguiu, cambaleando, tentando encontrar algum outro boteco de braços abertos. No caminho, deparou-se com um morador de rua em sono profundo. Ao seu lado, uma garrafa. Parecia ser alguma bebida. “Melhor que pagar por uma.”- pensou Renato. Tirou a garrafa do moribundo e saiu. No caminho, tentava abrir a garrafa. Não conseguia. Sentia algum peso nela, como se houvesse algo lá dentro. E com as percepções que qualquer bêbado teria, acreditava de todo coração que só poderia ser algo alcoólico, e estava decidido a descobrir o que era. Como ficava perto, Renato não teve dificuldades para chegar em casa. Com 10 toneladas de cansaço nas costas e uma chave que insistia em pular de suas mãos, ele pacientemente abriu a porta e entrou.
Sentou um pouco. Observou a garrafa. Ainda não podia abri-lá. Reparou que uma rolha a tampava. Foi pegar um saca-rolhas na cozinha. Também não adiantou. E num momento de fúria, Renato deu um berro e jogou a garrafa com tudo no chão da sala. Naquele instante, dos cacos de vidro surgiu um ser de fumaça. Renato, espantado, perguntava-se em voz alta o que seria aquela criatura. Ele não parava de falar. Então a nuvem gritou:

– Cale-se!

Renato obedeceu a ordem.

– Qual é o seu desejo? - perguntou o ser.

– Desejo? - indagou Renato.

– Sim. Me libertas-te de minha prisão. Em troca lhe concederei um desejo.

– Hum...Isso faz de você um gênio, certo?

– Ora! É claro que sou um gênio! O que mais eu seria?

– Mas... só um desejo?

– Olha, se me libertou apenas para me fazer perguntas estúpidas, sugiro que me prenda em outra garrafa e se livre de mim.

– Está bem! Desculpe!

– Agora, novamente, qual seria o seu desejo?

Renato, acreditando que era tudo uma alucinação, resolveu obedecer ao gênio e desejar algo. Mas não fazia idéia do que desejar. Tinha o emprego que sempre sonhou. Ganhava muito bem. O que desejaria? E durante aquela reflexão, lembrou do colega de trabalho. Poderia, porém não desejou que ficassem juntos. Parecia fácil demais. E frio. Precisava de algo que o ajudasse a conquistar o coração de seu amigo, não possuí-lo de uma vez. Teve uma idéia. A qualquer momento poderia acordar daquele provável sonho, entretanto, era melhor que ouvir as ladainhas daquele gênio grosseiro. Renato olhou decidido para a fumaça e exclamou:

– Desejo ser uma mulher!

– Seu desejo é uma ordem. - respondeu o gênio.

A cena se apagou. Com um pequeno esforço, Renato abriu os olhos e se viu deitado no sofá. A cabeça doía. Ele olhou para o piso da sala. Nenhum estilhaço de vidro. “Sonho doido. Não devia ter bebido tanto.”- pensava. Se dirigiu ao banheiro. Por algum motivo as roupas pareciam mais frouxas que usualmente. Não enxergava muito bem. Lavou o rosto. Virou para o espelho e viu o reflexo de uma linda mulher. Ficou sem palavras. Foi a sala novamente se certificar de que não havia algum caco de vidro jogado. Nada. O que teria acontecido? Estaria ainda sonhando? Renato se beliscou. Jogou-se de um lado para o outro. Não resolveu. Continuava com a mesma aparência. Sobrou apenas deixar-se levar por aquela situação. Voltou para o banheiro. Tirou a roupa e deu uma boa olhada no novo físico. “Estranho. Mas nada mal.”- dizia a si mesmo. Sentia-se sujo. Tomou um banho. Enquanto tentava compreender seu novo corpo, refletia em como seguiria com sua vida a partir dali. Apesar de complicado, aquela seria a chance perfeita para conquistar o coração do amado. Estava resolvido. Iria ganhar o coração dele. Nem que fosse como Renata.
Comprou roupas novas. Arrumou outra identidade e novos documentos. Difícil se acostumar. Muitos saltos quebrados durante o percurso. Com empenho, conseguiu o emprego como aquela pessoa. Agora precisava se aproximar do homem. Conversavam pouco. E os papos que não passavam de profissionais ficaram mais íntimos. Saíam juntos. E quando surgiu a oportunidade, Renata se declarou. A reação do indivíduo não poderia ser melhor. Ele confessou que a amava também. Naquela mesma noite, foram ao apartamento dela e selaram seu amor. Ela levantou de madrugada. O amado dormia. Tinha o coração dele. Deveria estar feliz. Entretanto, havia algo errado. Não parecia ter feito o correto. Pensativa, levantou vagarosamente da cama, vestiu uma camisola e saiu. Teria de ir a um lugar. Resolver um assunto com um certo alguém. Andava tentando recordar onde aconteceu. Alguns passos dados e lá estava ele. O mesmo mendigo, com a mesma garrafa do lado. Não hesitou. Tomou-a e correu para um beco vazio. Rapidamente, lançou o recipiente na calçada. O g~enio apareceu:

– Mas você de novo?! - resmungou ele.

– Eu faria muitas perguntas neste instante, porém não pretendo tomar seu tempo. - disse ela.

– Quer outro desejo?

– Isso mesmo.

– Sendo assim, diga.

Renata respirou fundo e pediu:

– Desejo voltar ao que era!

– Não compreendo. Não alcançou o que queria? Por que você voltaria agora?

Ela se perguntava o que o gênio quis dizer com “alcançou o que queria”. Respondeu:

– Porque prefiro estar longe dele sendo eu mesmo, do que perto como outra pessoa.
– Dessa forma, mais uma vez, seu desejo é uma ordem. - falou ele.

Outro apagão. Renato acordou no beco. Estava com seu velho corpo. Voltou para casa, formulando uma explicação ao amante no caminho.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Reflexão

Imaginava como seria dentro do espelho. Será que era diferente? Parecia o mesmo mundo. Os mesmos banheiros, quartos. Infelizmente só enxergo partes desta dimensão. E quando tento fazer contato com esta terra, sou interrompido por mim mesmo. Ele imitava cada movimento meu. Chegava a irritar. Mas não poderia ser culpa dele. Talvez ele só quisesse entrar aqui, e eu o estava atrapalhando. Tentei sair de seu caminho. Não adiantou, pois fez o mesmo. De qualquer forma, nada funcionaria. Estamos destinados a ficar-mos presos por culpa de nossos próprios atos, sem ao menos alcançar-mos o outro lado.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Vilão da história

Seu único intuito é vencer seu oponente. Sua aparência não surpreendente. Um tanto sem graça. Diferente de seu inimigo, não possui nenhum poder. É fraco. Teve que se virar durante toda a vida. Sem ajuda. Sozinho. Nunca desejou estar naquele estado. Fazer maldades. Tudo o que sempre quis foi ser amado. Ser admirado. Mas o herói sempre se interpôs. Ganhava todos com sua beleza, musculatura e super-poderes. Enquanto isso, o outro ficava no canto. Odiosamente observando a situação. Guardava rancor daquela criatura. Ao contrário dele, era desprezado por todos. Julgado. Não era bem vindo. Condenado por ser apenas humano.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sentindo...

Nunca a conheci. Não sei da existência dela. Mesmo assim anseio por nosso encontro. Quero achá-la. Abraçá-la. Sair com ela mais uma vez. Lembro de observarmos as estrelas. A lua. De Passearmos fantasiados, não nos importando com o que pensassem. Compartilharmos flores. Assistirmos um anime tomando sorvete de menta. Me preocupo com ela. Imagino como terrível seria perdê-la. Prometo jamais abandoná-la. Estou a cada dia mais apaixonado por minha desconhecida amada.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Passatempo de uma garota

Não entendo as pessoas as vezes. Se gosto não se discute por que implicam com o meu? Gosto de matar pessoas. Já virou um hobby. Ainda lembro da minha primeira vez. Tinha uma garota que sempre implicava comigo. Era daquelas “amigas” que ficam em rodinhas e fofocam sobre os outros. Mas ela me deixou puta mesmo quando eu estava gostando de um garoto. Certa vez resolvi falar com ele e ela simplesmente o puxou e lascou um beijo nele. Infelizmente para ela, já sabia cada passo da garota. Como ela sempre saía durante as aulas para retocar a maquiagem, só aproveitei um desses momentos e a matei. Uma pena ser tão inexperiente naquela época. Matar por causa de um moleque foi a pior coisa que poderia ter feito. Ao menos me diverti. Consegui ficar com o garoto, mas ele apenas o fez para ver se me comia. Não devia ter falado isso para mim. O azar foi o dele, morreu depois do encontro. Devo ter sido a única aluna que levava um cutelo na escola. Havia um tipo de depósito abandonado lá. Deixei os dois corpos no lugar. Devem até ter dado conta deles. Não é mais problema meu. Foi difícil revelar esse gosto e as experiências aos meus pais. Ficaram realmente tristes. Mamãe não acreditou. Ficava repetindo que não ouviu aquilo. Que era apenas imaginação. Papai não parava de gritar comigo. Quase me batendo. Falava que uma menina como eu não deveria fazer algo desse tipo. Porém não chamou a polícia. Disse que esqueceria daquilo, desde que nunca mais fizesse algo assim. Levou minha mãe para o quarto. Sem aceitação, nem compreensão, restou-me apenas fugir de casa. Esperei os dois estarem em sono profundo. Levantei. Coloquei uma roupa, peguei a chave do carro, a machadinha, todo o dinheiro que possuía e saí. Uma sorte meu pai ter me ensinado a dirigir antes do acontecimento. Qual o problema afinal? Pelo menos não mato animais. Sempre fui vegetariana. Me acham assassina mas não fazem questão de matar para sobreviver. E os que fazem roupas com pele? Arrancam o couro dos animais enquanto eles estão vivos. Um dia irei atrás deles. Agora vivo mudando de cidade. Só eu e meu cutelo a procura de algum entretenimento.

domingo, 11 de julho de 2010

A-MAR

O capitão e O navio. Relação profunda. Não importa a época, o barco, a nacionalidade, estão sempre juntos. E nesse entrelaço homossexual eles compartilham carinhos. Enquanto um cuida da saúde, higiene e aparência do parceiro; este corresponde ao ato levando o amante a vários lugares maravilhosos, para experiências exóticas, acolhe-o. Claro que nem tudo é um mar de rosas. Existem os problemas. As dificuldades. Desentendimentos. Mesmo assim, não se separam. Unidos até que a morte os afunde.

domingo, 4 de julho de 2010

Rotina

Um dia você visita sua tia e, dentre as fotos da parede, observa a imagem de seus bisavôs. Passado isso, segue com sua vida:Estuda, se forma, trabalha, constitui família, até se encontrar estampado em um pedaço de papel, dentro de um porta retrato, sendo observado pelo bisneto na casa da tia dele.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Tragédia épica

Um bravo guerreiro desejava a mão da filha de um rei muito poderoso. Então, seguiu até o palácio do reino e se apresentou ao velho homem. Para convence-lo, contou-lhe detalhadamente todas as suas aventuras, como agiu corajosamente onde ninguém agiria e sua sabedoria diante de enigmas desafiadores. A moça, que estava ao lado do pai, ficou um tanto impressionada. Já o senhor, não se convenceu.
Quando o jovem estava para desistir, o fidalgo o interrompeu e propôs um desafio. O aventureiro deveria subir até o topo de uma montanha, localizada no reino inimigo, e trazer um item especial daquele lugar como um presente a ele. Porém, durante a jornada, ele não poderia matar ninguém. Imediatamente o moço se dirigiu ao lugar. Encontrando-se com oponentes, enfrentava-os e derrotava-os, obedecendo a regra da proposta. Chegando ao local, logo encontrou o que procurava. Apesar de não ter informações do que era, reconheceu-o. Tratava-se de uma flor raríssima, encontrada apenas naquela região. Arrancou-a e voltou para o palácio.
Encontrou-se com o ancião, contente em sua vitória. Mas, ao entregar o presente, o velho reagiu de forma inesperada. Mandou que prendessem o homem e o executassem. Desesperado, o guerreiro indagou ao rei a razão do tumulto. Respondeu que a regra foi quebrada. O acusado afirmou não ter matado um só ser durante todo o percurso. O sábio virou-se e disse-lhe: “É aí que te enganas. Tiras-te a vida da flor. Não se deve tirar a vida de nada, não importa quão singelo ou trivial algo seja. Todos tem direito a vida. Se não chegasse com a flor morta, teria a mão de minha filha. Como fez o oposto, que se case com a morte!”. Assim, o prisioneiro foi levado e morto, refletindo no erro que cometeu.

sábado, 19 de junho de 2010

Futuro

Não é mais um planeta de homens. Eles não existem agora. Foram extintos. Não completamente. Ainda há vestígios de sua presença. São máquinas que ficaram em seu lugar. Criaturas robóticas. Umas extremamente inteligentes. Outras, nem tanto. Porém, todas compartilham o mesmo modo de vida, se é que isso é viver.
Aparentemente são idênticos aos humanos: feitos de carne e osso. Trabalham; convivem com uma família; possuem amigos e sentimentos. Entretanto, não pensam. Não refletem. Agem impulsivamente. Vivem em frente de seus televisores, imóveis, enquanto engordam e esquecem sua história. Sua cultura. Perdem o amor à pátria.
Só nos resta torcer para que as pessoas nunca desapareçam, e aumentem principalmente, repopulando a Terra.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ma-so-quis-mo

sm 1. Dar valor a quem não sabe da existência do mesmo nem compartilha de tal ato. 2. Apaixonar-se por quem não conhece ou ama o respectivo indivíduo. 3. Não se dar o devido valor. 4. Não possuir confiança em si mesmo. 5. Deixar-se levar pelo que outras pessoas pensem. 6. Odiar-se.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fim

Não era nada do que eu imaginava. Na verdade, como ninguém imaginava que ela fosse. Claro que nem todos a viam do mesmo modo. Não me lembro muito bem da causa. Apenas recordo de num momento estar atravessando a rua, e no outro, flutuando no vazio. Demorou para cair a ficha. Fiquei muito confuso. Pensava:”Mas que droga é essa!”. Seria um sonho? Teria eu desmaiado? Ou era alguma maluquice de ficção cientifica? Refletia, até surgir algo diante de mim. Aproximava-se vagarosamente. Não conseguia ver. Ao chegar a certa distância, pude ver que não se tratava de “algo”, mas sim de “alguém”. Era uma mulher. Pálida, cabelos escuros e encaracolados, olhos completamente negros. Usava um vestido branco sem mangas. Ele era um tanto transparente, deixando um pouco a mostra o seu corpo esbelto. Chegava a ser bem sensual. Começava a acreditar na hipótese do sonho. E que sonho! Porém, quando olhei mais atentamente ao seu rosto, notei lágrimas escorrendo. Por que razão aquela mulher estaria chorando? Não fazia idéia. Então ela parou, olhou fixamente em mim e me chamou, calmamente. Sem outras coisas para me preocupar, obedeci avidamente. Apesar de estarmos em movimento, parecia não irmos a lugar algum. Pelo menos para mim. Já ela, demonstrava consciência de seus atos, como se fosse costumeiro fazer aquilo. Parou, virou-se e falou:”É aqui que lhe deixo”. Por ainda estar chorando, antes que partisse, precisei matar a curiosidade. Perguntei:” Por que choras?”. Um momento de silêncio. Respondeu:” Porque jamais me desejarão”. Diante de tal resposta, retruquei dizendo:”Como alguém não desejaria pessoa tão formosa como você?”. A moça olhou para baixo tristemente e disse:”Sou a morte”. Sumiu. Assim, com tal choque, só me restou ficar parado, pasmado, pensando na vida que não possuía mais.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Incompreensão

Nasceu no mesmo planeta que todos. Do mesmo modo. Conforme crescia, fazia amigos onde quer que fosse. Agia como qualquer outra criança. Entretanto, ficava cada vez mais velho. Adquirindo conhecimento. Então, formou-se sua personalidade. As idéias foram surgindo. Foi aí que tudo desabou...


Sempre se expressava aos parentes e amigos. Ninguém o compreendia. Ainda assim não desistia. Não deixava de conversar. Certas vezes desabafava. Inútil. Talvez não completamente. Algumas exceções entendiam uma ou outra coisa do que dizia, pensava, sentia. Não era completamente culpa deles. As vezes o infeliz indivíduo que não expressava direito seu pensamento. Havia horas em que chegava a exagerar. De qualquer jeito, o resultado era o mesmo: NADA.
Mas não pararia agora. Estava determinado a encontrar alguém que o compreendesse. Não aguentaria viver assim. Inaceitável. Tal obsessão o levava a se iludir. Apaixonava-se por quem não devia. Nem conhecia a pessoa e já a queria. Acabava decepcionado. Chorando. Demorou. Enfim finalmente aceitou a vida que tinha. Aturaria aquilo, por enquanto. Pobre ser. De que adiantaria encontrar alguém igual a ele. A variedade das pessoas, de todas as coisas é que torna nosso mundo tão especial. Para tudo idêntico? Onde estaria a Originalidade num mundo assim? Devemos ser quem somos, não importa o que pensem ou deixem de pensar. Goste de si. Ame. Adore. Creia. Faça. Você molda a sua vida.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mendigo

Ele vaga há um bom tempo. Rasteja pela calçada. Fareja algum lixo jogado no chão. Que diferença faz? Ninguém liga mesmo. Deita-se. Seres passam por ele. Ignoram-no. Se não, olham com algum espanto e certo enojamento; ou observam-no com alguma pena, mas não ajudam. Já se acostumou. De vez em quando é até ameaçado. Acidenta-se pelo caminho. Está tão machucado, porém, tornou-se comum a ele. Atravessa a rua. Mais deles. As mesmas reações. Encontra alguém que partilha de seu sofrimento. Faz um amigo. Ainda que momentâneo. Não pode parar agora. Tem fome e não encontrou comida. Melhor procurar outro entulho. Encontra-o. Dessa vez tem sorte. A comida é horrível. Melhor que morrer de fome. Após o pequeno banquete, sai com um osso na boca e balançando alegremente a calda. Quem dera tivesse um afago...

domingo, 23 de maio de 2010

IOIÔ

Vão. Voltam. Sempre incômodos. Ao me dar conta de sua presença, tento me livrar deles o mais rápido possível. Jogo-os de volta, mas quando menos espero, retornam. Me viro. Lanço-os novamente. Vão. Perecem não retornar. Engano meu. Voltam. Faço outra tentativa. Vão. Infelizmente enroscam-se em mim. Voltam.
Os problemas são como um bando de ioiôs em minha vida. Não importa quão complicados eles sejam, ou não. Sei apenas que jamais devo esquecer de sua existência. Eles podem ir com o tempo, porém, nunca deixarão de voltar.

domingo, 16 de maio de 2010

A peça chamada VIDA

A peça possui muitos atos. Para cada atuante, um papel. No começo você está completamente perdido. Ainda não entende muito do que se trata a apresentação, afinal, acabou de entrar nela; mas, aos poucos, começa a entender.
Depois de um tempo, ao estudar bastante o seu papel, já entende mais a peça, e percebe a importância de sua participação. Porém, você não sabe exatamente o que fazer. Só lhe resta por o seu figurino e improvisar, enquanto a apresentação prossegue. Afinal, o show deve continuar.
Um bom tempo após, você já está quase completando sua parte. Trabalhou bem, ou não. Pode ter esquecido umas falas durante a peça, mas nada que uma boa reação, e a ajuda dos amigos que fez nela, não tenha resolvido. A peça não acabou, nem se sabe quando acabará; entretanto, você participou muito bem. E que venha o próximo ato...

sábado, 15 de maio de 2010

Exemplo de um "patriota"

"Constantemente vivo em uma sociedade à beira da ruína: pessoas morando nas ruas; criminalidade; impostos altos demais. Ora! Quem mais seria culpado por estas atrocidades? O governo é claro!!!
Graças a eles sou obrigado a me deparar com algum mendigo por aí, e após uma suplicante petição de dinheiro, nego e vou embora. Como eu poderia ajudá-lo? Tenho que cuidar da minha vida!!! Minha casa tem cara de abrigo por acaso? Eu não sou responsável por sua miséria. Devo sustentar família. Os políticos que deviam ajudar!
E esses drogados...soltos por toda a cidade. Culpa desses safados também! Eu não tenho a obrigação, e muito menos tempo, de ensinar o meu filho a não usar essas porcarias. Ele já deve saber muito bem o que é certo e errado! Eu não preciso estar ao lado dele o tempo todo. Ele provavelmente já sabe se virar.
O nosso país é uma droga, tudo graças aos malditos! Eles que estragaram tudo!!! Por isso que eu prefiro os Estados Unidos. Lá tudo é melhor! Não gosto nem de saber da história deste Brasil. Para quê? Não vai mudar nada mesmo. E eu estou muito ocupado para isso. Eu tenho mais o que fazer!!!" - um suposto cidadão