sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mendigo

Ele vaga há um bom tempo. Rasteja pela calçada. Fareja algum lixo jogado no chão. Que diferença faz? Ninguém liga mesmo. Deita-se. Seres passam por ele. Ignoram-no. Se não, olham com algum espanto e certo enojamento; ou observam-no com alguma pena, mas não ajudam. Já se acostumou. De vez em quando é até ameaçado. Acidenta-se pelo caminho. Está tão machucado, porém, tornou-se comum a ele. Atravessa a rua. Mais deles. As mesmas reações. Encontra alguém que partilha de seu sofrimento. Faz um amigo. Ainda que momentâneo. Não pode parar agora. Tem fome e não encontrou comida. Melhor procurar outro entulho. Encontra-o. Dessa vez tem sorte. A comida é horrível. Melhor que morrer de fome. Após o pequeno banquete, sai com um osso na boca e balançando alegremente a calda. Quem dera tivesse um afago...

domingo, 23 de maio de 2010

IOIÔ

Vão. Voltam. Sempre incômodos. Ao me dar conta de sua presença, tento me livrar deles o mais rápido possível. Jogo-os de volta, mas quando menos espero, retornam. Me viro. Lanço-os novamente. Vão. Perecem não retornar. Engano meu. Voltam. Faço outra tentativa. Vão. Infelizmente enroscam-se em mim. Voltam.
Os problemas são como um bando de ioiôs em minha vida. Não importa quão complicados eles sejam, ou não. Sei apenas que jamais devo esquecer de sua existência. Eles podem ir com o tempo, porém, nunca deixarão de voltar.

domingo, 16 de maio de 2010

A peça chamada VIDA

A peça possui muitos atos. Para cada atuante, um papel. No começo você está completamente perdido. Ainda não entende muito do que se trata a apresentação, afinal, acabou de entrar nela; mas, aos poucos, começa a entender.
Depois de um tempo, ao estudar bastante o seu papel, já entende mais a peça, e percebe a importância de sua participação. Porém, você não sabe exatamente o que fazer. Só lhe resta por o seu figurino e improvisar, enquanto a apresentação prossegue. Afinal, o show deve continuar.
Um bom tempo após, você já está quase completando sua parte. Trabalhou bem, ou não. Pode ter esquecido umas falas durante a peça, mas nada que uma boa reação, e a ajuda dos amigos que fez nela, não tenha resolvido. A peça não acabou, nem se sabe quando acabará; entretanto, você participou muito bem. E que venha o próximo ato...

sábado, 15 de maio de 2010

Exemplo de um "patriota"

"Constantemente vivo em uma sociedade à beira da ruína: pessoas morando nas ruas; criminalidade; impostos altos demais. Ora! Quem mais seria culpado por estas atrocidades? O governo é claro!!!
Graças a eles sou obrigado a me deparar com algum mendigo por aí, e após uma suplicante petição de dinheiro, nego e vou embora. Como eu poderia ajudá-lo? Tenho que cuidar da minha vida!!! Minha casa tem cara de abrigo por acaso? Eu não sou responsável por sua miséria. Devo sustentar família. Os políticos que deviam ajudar!
E esses drogados...soltos por toda a cidade. Culpa desses safados também! Eu não tenho a obrigação, e muito menos tempo, de ensinar o meu filho a não usar essas porcarias. Ele já deve saber muito bem o que é certo e errado! Eu não preciso estar ao lado dele o tempo todo. Ele provavelmente já sabe se virar.
O nosso país é uma droga, tudo graças aos malditos! Eles que estragaram tudo!!! Por isso que eu prefiro os Estados Unidos. Lá tudo é melhor! Não gosto nem de saber da história deste Brasil. Para quê? Não vai mudar nada mesmo. E eu estou muito ocupado para isso. Eu tenho mais o que fazer!!!" - um suposto cidadão