quarta-feira, 27 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo final

Bárbara não sabia onde estava. Era um lugar completamente branco. Parecia infinito. O nada absoluto, ela diria.

– Por quê?

A moça virou para ver quem falava.

– Por que você se culpa tanto? - uma menina perguntava para ela.

– Eu...Quem é você?

– Sofia.

– Ah. Então é a senhorita que leva o meu corpo por aí durante o dia.

– Não foi culpa sua.

– Sei...

– Mas existe algo pelo qual você deveria se culpar.

– E o que é?

– Entristecer Bia e Cláudia.

– Como assim entristecer?

– Já reparou na preocupação que elas tem por você? No quanto se importam?

– Sim, eu...

– Sendo assim, não deveria se unir mais a elas e abraçar seu amor do que se ocultar num quarto?

– Sim... - refletiu e ficou decepcionada.

Sofia a abraçou.

– Deixe o passado de lado e aproveite quem está perto de você.

– Certo. Obrigada.

– Cuide bem da minha irmãzinha e da Clauclau. Poderia...se despedir delas por mim?

– Ahn?

Acordou na cama de um hospital.

– Irmã? - falou Bia, preocupada.

– Oi loirinha. Que aconteceu?

– Você caiu e machucou a cabeça. Nos deixou amedrontadas, sabia? - reclamava Cláudia.

– Desculpe. Eu não vou mais trazer problemas.

– Se sente bem?

– Não.

– Que foi? Sente dor?

– Eu nunca agradeci devidamente pelo que vocês fizeram por mim. Ficava tão focada na perda que esquecia. Me perdoem.

– Está perdoada! - a criança pulou na cama e abraçou forte a moça.

– Espera. São 8 da manhã. O que aconteceu com a Sofia?

– Se foi.

– Aaah, ela não volta? - indagou Bianca.

– Acho que não mana.

– Poxa. Talvez ela não tenha desaparecido. Ainda vive aí dentro. Sempre esteve em você.

– Pode ser, irmãzinha.

Para a surpreza das duas, Bárbara sorria. Nunca tiveram a oportunidade de ver aquele sorriso. E pela primeira vez, aquela garota tristonha ficou feliz. Maria deixou de ser uma tortura, e virou uma lembrança agradável. E para o bem dela, prometeu a si mesma que não iria chorar mais, e trazer felicidade à sua nova família.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo 8

Bianca, ajoelhada, falava com uma lápide. Sofia e Cláudia observavam. A menina encostou as flores no lugar e levantou. Saíram do cemitério e voltaram para casa. Já faziam alguns meses que Bárbara vivia na mansão com as duas. Sofia continuava uma criança brincalhona, enquanto Bárbara era a mesma amargurada. Ela disfarçava bastante, mas conseguiam ouvir seus prantos durante a noite, trancada no quarto. A moça não permitia a entrada. As vezes tentavam consolá-la. Ela ficava quieta, escondida em seu mundo infeliz e sem família. Família de apenas uma pessoa para ela. Maria. Passou a ter o hábito de trancar o quarto ao sair dele. Escondia algo dentro?

– Eu quero entrar no meu quarto! - queixava-se Sofia.

– Por hora, é melhor você ficar fora. As vezes tem coisa perigosa, e por isso trancaram a porta. - explicava a mulher.

– Quem? O que existe de tão perigoso?

– Eu não sei. Esqueça e vá se distrair.

– Tá...

Foi a melhor desculpa que Cláudia conseguiu arrumar. Como explicar que na verdade ela própria trancou a porta? Porém, a mulher estava preocupada. O que Bárbara esconderia naquele cômodo? Bia tinha aula de Francês, então não podia brincar com a irmã. Sofia rondou a casa toda. O tédio prevaleceu. Teve uma idéia. Passado algum tempo, Cláudia notou o sumisso da garota. Procurando, encontrou-a no quarto. De alguma forma Sofia conseguiu arrombar a porta. As paredes, cobertas de folhas de papel com desenhos de uma pequena menina morena. Maria?

– O que aconteceu?! - falou Sofia, indignada.

– Então era isso? - Cláudia analisava a cena.

– Essa menina...

De repente a moça colocou as mãos na cabeça, gritando.

– O que foi Sofia?

– Eu...é minha culpa - andando de costas rapidamente, a garota se afastava de Cláudia, indo em direção a sacada. - Me perdoe Maria, por favor!

– Cuidado!

Desorientada, Sofia trombou nas grades e caiu do segundo andar.

sábado, 16 de abril de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #2

Thiago estava na estação do metrô. Quem passava, olhava assustado aquele indivíduo completamente imóvel e inexpressivo. Uma garota se aproxima.

– Já aqui? - dizia Kamila - Pensei que chegaria primeiro. Que horas você chegou?

– 11 horas.

– Bem...eu sei que a gente combinou de nos encontrarmos nesse horário, mas não precisava aparecer exatamente às 11.

– Não compreendo.

– Ai, não começa com as suas bobeiras. Vamos logo.

Entraram e pegaram o transporte.

– Veículo interessante. - falou ele.

– O trem? Nunca andou em um?

– Não consta nos registros.

– Meu Deus! O que você faz o dia todo?

– Nenhuma atividade é executada.

– Aff...que vida hein. Acho que estou te levando para o caminho certo. Você está saindo, com uma linda garota ainda por cima. Dois coelhos numa cajadada.

– Nenhum leporídeo foi detectado na área do vagão.

– Leporídeo?!

No centro da cidade, Kamila conduziu o menino por todo o caminho, puxando-o pela mão.

– É aqui. - disse ela, parando na frente de um fast-food.

– Por que nos dirigimos até este local?

– Entre de uma vez! - a menina o empurrou. Enquanto ele fazia os pedidos, ela esperou numa das mesas, próxima da entrada. De repente, aparece Paulo e sua suposta namorada. - Fala!

– Você...- disse ele - O que faz aqui?

– Nada. Só dando um passeio com o meu namorado, sabe?

– Sei. Eu também vim passear com a minha. Ela é legal, diferente de certas pessoas.

– Adoro o meu. Bem melhor que um ex aí que eu tive.

– Ah, você é uma idiota mesmo hein!

– Idiota é você!

Ao voltar com os lanches, Thiago encontrou os dois brigando. A moça que acompanhava Paulo parecia assustada. Uma garota baixa, de óculos e cabelos castanhos .Observava aquela situação sem saber o que fazer.

– Eu vou embora! - Paulo saiu, nervoso.

– Volte! Você não me escapa! - Kamila seguiu-o.

Abandonada pelo acompanhante a menina ficou desolada. Ela olhava para Thiago, mas logo virava o rosto, encabulada. Tomou coragem e perguntou:

– Nós...não deveríamos ir atrás deles?

– Meus cálculos indicam que retornarão.

– Puxa...você é bastante inteligente. Quer dizer...eu... - a moça perdia a fala na timidez.

– Eles vão demorar. É recomendável que comamos. Seria um desperdício deixar a comida e sair.

– Bem...então...vamos comer.

A menina comia lentamente. Ele seguia seus movimentos, aprendendo como ingerir o sanduíche.

– Eu sou Bruna. - apresentou-se ela.

– Prazer em conhecê-la.

– Eh...o que você viu nela?

– Como?

– A Kamila...por que namora ela?

– Informação indisponível.

– Não sabe? Eu também não sei por que estou com o Paulo. Ele me levou, simplesmente.

– E por que você foi com ele?

– Eu...jamais fiquei tão perto de um garoto. Nunca beijei ou tive um namorado. Ele me atraiu facilmente. Não acredito que ele goste de mim, porém prefiro ficar com ele do que sozinha de novo.

– Estou confuso. Nesse caso não seria melhor andar com alguém que lhe dê mais valor?

– Talvez...

Kamila e Paulo voltaram para o lugar irritados. Cada um pegou seu par e saiu. De volta ao metrô, a moça olhava nervosa para Thiago.

– Não fez nada com ela durante minha ausência, né? - perguntou ela.

– Nós comemos e conversamos.

– Hum...bom mesmo! Não perdoaria uma traição. Não é que eu me importe, eu só...tanto faz tá bom! - a garota tentava disfarçar. No fundo ela se importava, embora não entendesse o motivo. Ela apenas o usava, ele não passava de uma peça importante no seu plano contra Paulo. Por que se importaria? Será possível que... - Não pode ser! Impossível!

– Há algo errado?

– Ora...não te interessa!

Desceram na estação.

– Bom...a gente se vê. - despedia-se ela.

– Tchau.

Começaram a se afastarem um do outro. Kamila sentiu uma coisa, Precisava se certificar de que era verdade. Correu para o garoto e o abraçou.

– Me abrace. - ordenou a moça.

Thiago rapidamente obedeceu.

– Pode me soltar agora. E lembre-se, você não tem valor algum para mim! Seu verme!

– Entendido.

Aquela sensação ao ser abraçada por ele. Por mais que negasse, era o que acontecia. E indo para casa, havia um único pensamento na mente de Kamila: “Me apaixonei...”

sábado, 9 de abril de 2011

A dama da noite - capítulo 7

Cláudia estava contente. Encontrou Bia e Sofia deitadas na cama, abraçadas. Ou seria Bárbara dormindo junto da loira? Provavelmente as duas ficaram mais próximas na noite anterior. Despertaram e desceram para tomar o café da manhã. A mulher saiu para resolver os negócios antes pertencentes a mãe de Bianca.

– Onde está a Clauclau? - perguntou a morena.

– Ela tem uma reunião com os antigos sócios da minha mãe. - respondeu a pequena - Sofia...qual a sua primeira lembrança?

– Hum, sei não. Eu lembro de umas pessoas lambuzadas com um suco vermelho. Depois andei pela cidade, sem rumo.

– Não se lembra de mais nada?

– Não.

– Ahn... - Cláudia falou com ela sobre esse dia, quando começaram as trocas de personalidade da Bárbara. Sofia nem reconhecia as pessoas mortas naquela data, mesmo que fossem seus pais. Apesar de agora se dar bem com a moça noturna, Bia ainda percebia uma certa tristeza nos olhos dela ao conversarem. Por que ela se culpava tanto? Afinal, foi seu pai o assassino de Maria.

– Sabe o que é mais estranho? Também não lembro o que faço durante a noite. E outra, eu tenho 6 anos e sou maior que você. Sou quase da altura da Clau Clau. Como isso?

– Vai saber, né. - óbviamente Sofia não se lembraria. Ao anoitecer ela era outra garota. A verdadeira dona daquele corpo. O que isso fazia dela? Um fantasma? Uma mentira? Desconhecendo a sua inexistência, a moça conduzia sua vidinha infantil e alegre, indiferente de ser real ou não - A Cláudia vai demorar. Vou jogar vídeo game.

– Eu também!

– Você nem sabe como se joga.

– Ué, eu aprendo.

– Só quero ver.

Cláudia voltou para a mansão. Já havia anoitecido. Na escadaria, viu Bia sentada nos degraus, chateada.

– Aconteceu alguma coisa? - disse preocupada.

– Ela ganhou de mim...com o Blanka. Perdi minha honra. E pensar que eu usava o Ryu. - a menina abaixou a cabeça, decepcionada.

– Hein?!

– Da próxima vez uso o Akuma. Duvido ela me vencer novamente.

– Olha...eu vou subindo, tudo bem?

– Tá.

Antes de ir no escritório, decidiu passar no quarto de Bárbara.

– Está aí? - perguntou, batendo na porta.

– Sim. Só um minuto. - a garota apressadamente guardou algo e abriu a porta. - Em que posso ajudar?

– Apenas checando. Fazendo o quê? Ouvi um barulho e...

– Não é nada.

– Sei. Bom, se precisar, estou na minha sala.

– Certo.

Cláudia ficou curiosa sobre o que a moça escondia. Até Bianca foi impedida de entrar. A morena dizia estar ocupada. A criança então jogou vídeo game de novo, disposta a praticar e vencer Sofia. Cansada do “treino”, resolveu dormir. Na sua cama encontrou um boneco de tecido, provavelmente feito a mão e recentemente. Ao lado, um bilhete: “De Bárbara para Bia, minha querida irmãzinha”.

– Como ela fez isso tão rápido? - feliz com o presente, deitou-se e dormiu.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

CCN-SR: Confusões de uma Colegial e seu Namorado-Servo Robô #1

Estudantes espalhados, conversando e rindo. Então todos os olhos se viraram para a garota que acabava de chegar. Num andar imponente, ignorando os observadores, Kamila, a menina mais popular do Colégio, passou pelos alunos e se juntou a suas amigas.

– Bom dia! - cumprimentou-as com beijos no rosto.

– Conseguiu alguém ontem? - perguntou uma delas.

– Não. Os garotos daqui são uns bobos e feios. Impossível achar alguém no nível do Paulo.

– É bom achar logo se fazer ciúmes nele.

– Eu sei. Acredita? O maldito disse que terminou comigo porque enjoou de mim. Idiota. Ainda estamos em Abril. Ele verá uma coisa.

Deu o sinal e foram para a sala. Kamila ajeitava o cabelo, ignorando a explicação do professor. Ouvem-se batidas na porta. Um garoto entra, pedindo licença. As alunas ficaram boquiabertas com a beleza dele. Trocou umas palavras com o homem.

– Atenção classe. Este é Thiago. Ele foi transferido para cá.

– Oi.

Apesar da fala breve e a expressão séria, as garotas derreteram com o comentário, tirando Kamila, distraída maquiando-se. Sentou-se justamente atrás dela. Nas primeiras aulas ele se mostrou extremamente inteligente, sem errar uma questão feita à ele. Completamente ereto, ficava calado e não apresentava emoções ou qualquer reação. Fazia as lições silenciosamente. Durante o intervalo, estava encostado na parede do corredor. Um grupo de meninas o espionava do outro lado. Para a surpresa delas, alguém se aproxima dele.

– Escuta aqui, - Kamila o encurralou - eu não sei qual é o seu joguinho, mas comigo não funciona.

Ele continuou quieto, olhando fixamente os olhos da moça.

– Você é um lixo! Nada comparado a mim.

Sem resposta.

– Qual é o seu problema hein?

– Procurando...

– Ahn?!

– Nenhum defeito foi encontrado no sistema.

– Aff, seu tapado. - Quando ia deixá-lo, lembrou de seu plano. Embora fosse estranho, o menino era realmente atraente. Cabelo ruivo e bagunçado. Olhos verdes. Alto , com uma pele lisa e clara. Perfeito para realizar suas pretensões. A garota abraçou-o, esfregando-se em seu corpo. - Você é bem gato sabia? Que acha de ficar comigo?

Após um longo momento, respondeu:

– Características insuficientes para definir-me como felino.

– Ai...- não desistiu - Eu acredito que quem cala, consente. Sendo assim, quer ser meu namorado?

– Informação indisponível.

– Levarei isso como um sim. Muito bem! - apontou o dedo para o rosto do garoto - A partir de hoje somos um casal. Não ouse me trair. - Segurou sua mão e o levou para o pátio. - Me carregue nos seus braços.

– Motivos insuficientes para executar a tarefa.

– Cala a boca e me pega logo!

O ruivo agarrou a menina e a ergueu. Ela jogava seus enrolados cabelos no rosto do escravo, procurando humilhá-lo. Não houve reação dele. Boatos imediatamente surgiram sobre os dois estarem juntos, como Kamila planejava. Ordenou que a levasse de volta para a sala. O olhar irritado que Paulo enviava para Thiago da última fileira fazia a menina sentir-se vitoriosa. Ela queria mais. Puxou o moço e deu um beijo em sua boca.

– Thiago, na sala não! - ela disse alto.

– Thiago! - gritou a professora - Não tolero essa atitude nas minhas aulas. Diretoria, agora!

– Afirmativo. - respondeu a vítima. Levantou e saiu.

Kamila achou que ficaria feliz, porém, sem saber porque, se sentiu triste com o ato. Na saída, Thiago a viu sentada próxima da entrada, e por razões desconhecidas de sua programação, foi até ela.

– Desculpe ter te causado problemas. - a estudante fitava o chão, arrependida.

– Já lhe informei que não foram localizados danos no sistema.

– Não levou uma suspensão nem nada?

– “Suspensão” não consta nos registros.

– Advertência?

– Não consta nos registros.

– Que bom. E você me perdoa?

– Informação indisponível.

– Aah, você e suas “informações indisponíveis”. - ela subia nas costas dele.

– Por que toma tal procedimento?

– Ora, para você me carregar. É meu namorado, esqueceu? E como punição por não me perdoar, me levará para casa. Satisfeito?

– Informação indisponível.

– Ai, me leva logo de uma vez!