sábado, 26 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 6

Bianca estava em uma das salas. Apesar da TV ligada, apresentando seu programa favorito, ela olhava confusa para uma folha de papel.

– Se não vai assistir, desligue. - recomendou Cláudia.

– Ah...Oi. - disse a menina, desanimada.

– Nossa. Que aconteceu?

Bia mostrou o desenho para a mulher.

– Olha só que perfeito. Quem fez?

– Bárbara.

– Talentosa. Então ela conversou com você.

– Um pouco. De repente ela saiu e deixou o caderno. Também fiquei surpresa. Achei que foi de propósito deixá-lo. Fui procurá-la e a encontrei chorando no corredor. Ela gritou comigo, correu e se trancou no quarto.

– E não me chamou?

– Pois é. Mesmo na hora em que conversávamos ela parecia nervosa e um tanto triste.

– Bom diaaaaa! - Sofia surpreendeu as duas aparecendo com uma toalha amarrada como uma capa e um balde na cabeça, segurando uma colher de pau.

– Por que está vestida assim? - perguntou a mulher.

– Eu sou uma super-heroína. Love raaaaaaaay!

Cláudia vira para Bia, olhando-a seriamente.

– Você é uma péssima influência.

– Não posso fazer nada se ela brinca como eu.

– Claro. Ô heroína? Depois do café se arrume. Vamos sair.

– Tá. - ajeitou o capacete e se dirigiu à cozinha.

– Onde vão?

– Um psiquiatra. Levando em consideração os problemas dela, seria bom procurar por uma solução.

– Verdade.

Mais tarde, se encontraram com o doutor. Cláudia explicou a situação para ele. Conversou com Sofia e pediu que voltassem durante a noite.

– Sente-se, por favor. - dizia o homem.

– Eu tenho mesmo que participar dessa porra? - indagava Bárbara.

– Sim.

– Bom...Eu não tenho escolha mesmo. Diga velho.

– Quando você começou a apagar durante o dia?

– Eu tinha 10 anos. Bem depois de...minha irmãzinha morrer.

– Como ela morreu?

– Sabe, meus pais eram uns vadios. Meu pai bebia e agredia minha mãe. De raiva, ela batia em mim. Apesar disso, eu e Maria eramos unidas. Vivia para protegê-la.

– Maria? Esse era o nome dela?

– Sim. Um dia meu pai chegou louco em casa e matou minha mãe na surra. Então ele pegou uma faca e se aproximou da minha irmã. Tentei impedi-lo, mas ele me derrubou e esfaqueou Maria. Furei o olho dele com um garfo, tomei a faca dele e o esfaqueei. - seus olhos lacrimejavam - Ela caída, espalhando o sangue no piso. Desesperada, pegava o seu sangue e colocava nas feridas, achando que cicatrizariam e ela voltaria milagrosamente. Fiquei lá, chorando, abraçando-a até estar quase amanhecendo. Não queria ver a luz do dia. Nunca mais.

– Quantos anos ela tinha?

– 6 aninhos. Adorava brincar. Correr. Ficava feliz por qualquer motivo. O meu maior desejo é ter ela de volta. Vê-la sorrir novamente. Era meu trabalho protegê-la, e eu falhei.

– Entendo. Isso é tudo, obrigado. Pode chamar a sua amiga, por favor?

– Amiga? Certo.

Cláudia entrou na sala. O doutor começou a falar:

– O trauma da morte de sua irmã é a causa. Ela se responsabiliza bastante pelo acontecido.

– Mas por que acontece? Não entendo.

– As vezes um trauma é tão forte que mexe com a cabeça de uma pessoa. No caso dela, seu desejo pela irmã e de não presenciar o dia levou seu inconsciente a criar uma réplica da menina para prevalecer durante o dia, e só pela noite voltaria ao normal. Foi um meio que sua mente arrumou para, digamos assim, manter Maria “viva”. Ela vai se recuperar somente se a culpa desaparecer.

– Obrigada por ajudar.

Ao retornarem, Bárbara foi direto para o quarto. Cláudia falou com Bianca sobre a situação. A criança resolveu ver a garota. Bateu três vezes na porta e entrou. A moça encolhia-se sobre a cama. Em volta, diferentes desenhos de uma garotinha de cabelos negros.

– Bárbara...

– O que você quer? - ela virou suas costas para a loira.

– A Cláudia falou comigo. A Maria...

– Não fale dela! Eu... - a morena foi surpreendida ao ser abraçada por trás.

– Eu sei que te magôo por lembrar ela. Não gosto de te ver assim. Você não precisa passar por isso sozinha. Portanto, por favor, embora eu não possa substituí-la, me deixe ser sua irmã agora.

Bárbara agarrou a cabeça da menina e a acariciou.

– Obrigada. - a moça, comovida, beijou levemente a testa da criança - Deixo sim.

A menina, alegre com a reação, segurou-a e apoiou sua cabeça no peito da amiga, sorrindo. Conversaram bastante. Bia terminou por dormir nos braços da companheira, que preferiu ficar parada para não acordá-la.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 5

Bárbara estava no quarto, pensando no que fazer. Ouviu passos.

– Olá. - disse Cláudia ao se aproximar - Fazendo o que?

– Nada. - respondeu a moça - Posso saber por que estou vestindo esse pijama ridículo?

– Nós compramos umas roupas para Sofia. Ela amou esse pijama.

– Imagino.

– Vai tirar?

– Não. Ela pode ficar triste quando acordar.

? Se preocupando com ela agora? Essa é boa.

– Ah, cala a boca. Para quê veio me infernizar afinal?

– Quero falar com você.

– Sobre?

– O que aconteceu ontem?

– Sei lá. Acordei numa cozinha molhada e vi um filho da puta tentando estuprar a loira. Dei um jeito nele e trouxe ela para cá.

– Deu um jeito?

– Digamos que ele está ocupado com uma pia. Mas por que pergunta logo para mim?

– Bárbara não lembra. Nem Sofia. Restou perguntar para você.

– Entendo. - mexendo nas gavetas do guarda-roupa, pegou lápis e um caderno. Sentou e começou a desenhar. - Também tenho umas perguntas.

– Diga.

Cadê a mãe da Bianca?

– Faleceu. Deixou tudo para mim, não sei porque. Nunca me tratava bem. Vivia me chamando de “crioula” ou “preta”.

– E não se demitiu? Eu já teria dado uma surra nessa vadia.

– Não fale assim. Eu fiquei pela Bia. Viramos grandes amigas desde que nos conhecemos.

– Ela é foda. Pena não nos falarmos tanto.

– Ela está no quarto dela. Que tal ir conversar com a menina?

– É uma boa idéia. Vem junto?

– Não. Tenho negócios para resolver.

– Certo.

Bianca assistia TV num cômodo rosa todo enfeitado.

Opa! - saudou a morena.

Oi. - disse a criança.

– Vendo? - sentou-se no colchão rosado.

– Desenho.

– Legal. Quer fazer algo?

– Já estou fazendo.

Ahn. - continuou desenhando. Levantou - Vou pro meu quarto. Se precisar, me chame. Boa noite.

– Até.

Bianca notou que a garota esquecera o caderno na cama. Ao abri-lo, encontrou um perfeito desenho de si mesma deitada, assistindo televisão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Sorvete de menta"

Está aí...minha primeira pintura. Foi de repente que decidi ter esse hábito. Eu gostava de pintar e desenhar desde pequeno, mas sempre me achei um péssimo desenhista e pintor. Ainda acho na verdade. Enfim, embora meus traços não sejam tão bons quanto o da minha amigona Suzi C. Lima (adoro os desenhos dela *--*), passarei a postar pinturas, além dos textos. Espero que gostem ^^.


Ahh é...tenho que explicar a pintura...quase esqueço XD


Bem. No momento em que pintei não tive nenhuma idéia em mente. Depois de analisar a obra, penso que queria mostrar a morte como algo comum, e que não impede as pessoas de viverem felizes antes dela. Porém, ainda que vivamos felizes, isso não tornará a morte uma coisa linda...não para mim ao menos :|...Ah sim, desculpem pela foto. Ela saiu muito clara por causa do flash. Agradeço :)

terça-feira, 8 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 4

Apesar da confusão passada, a manhã começou calma. Bia e Sofia brincavam no jardim. Cláudia observava de dentro da mansão. Elas riam e corriam na grama, como se nada tivesse acontecido. Estranhamente, Bianca não se lembrava de fugir, ou do que sucedeu depois disso. Sofia também. Restava perguntar para Bárbara. Como aquela pessoa alegre, brincalhona e infantil poderia, ao anoitecer, virar alguém tão sério, grosseiro, que nunca sorri e está sempre de mau humor? Qual seria a personalidade verdadeira? Era possível aquele corpo possuir consciências totalmente diferentes? Pensativa, Cláudia distraiu-se e não reparou no sumiço das duas.

– Buuh! - berrou uma voz.

– Aaaaaaah, meu Deus! - a mulher levou um susto.

– Heheee. Assustei a Clauclau. - falava Sofia, rindo. Levantou a mão - Bate aqui.

Quando Cláudia foi fazer o cumprimento, a morena desviou e bateu no braço.

– Ben 10.

– Aahn?! Que brincadeira sem graça foi essa?

– A Bibi me ensinou.

– Ai...porque não estou surpresa. Falando nisso, cadê ela?

– Se arrumando.

– Para quê?

– Ela disse que vamos sair. Comprar roupas.

– Mais? Ela já tem muitas.

– São para mim.

– Agora que mencionou, você precisa mesmo.

No shopping, Sofia olhava as vitrines admirada. Gostou de tudo. Principalmente de um pijama de bolinhas. De tanta admiração, acabou se separando delas. Um garoto chamou sua atenção.

– Iaí gata? - dizia ele.

– Gata? Eu amo gatos. Eles são tão fofos. Onde ela está?

– Bem aqui, na minha frente. Tá afim de uns pegas?

– Pegas? Hum... - a morena pensou - Ah, claro. - deu uma dedada no moço - Tá com você!

Ela correu gargalhando de divertimento, apesar do engano. O menino, confuso, ignorou e foi para outro alvo. Bia e Cláudia foram chamadas para a recepção. Encontraram Sofia.

– Onde você se meteu hein mocinha? - brigou a criança.

– Estava brincando. Acabaram me pegando. Eu sempre perco nesse jogo. Não é justo. - reclamou a moça.

– Aiai. Quantos anos pensa que tem afinal?

Sofia refletiu e mostrou seis dedos.

– Sei...Vamos para casa, garotinha.

Brincaram com as vestimentas, enquanto Cláudia aguardou o despertar de Bárbara. E o dia passou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A dama da noite - capítulo 3

Pessoas amontoadas. Nenhuma delas era a que Bianca procurava. Há um bom tempo que andava. Ficou surpresa de ninguém tê-la encontrado ainda. Fugiu desde cedo, e já era quase noite. Um homem a abordou:

– Está perdida? - disse ele.

– Não. Com licença. - Bia tentou se afastar da figura.

– Espere aí. Está ficando tarde. Não acho seguro você andar por estas ruas no momento. Por que não vem na minha casa?

– Eu não costumo falar com estranhos.

– Que é isso. Eu tenho cara de alguém suspeito?

– Não...

– Então venha.

Bia acompanhou o cidadão bem trajado até uma pequena residência. Ele abriu a porta e deu passagem a loirinha. Entrando, ela viu uma pia transbordando e alguém conhecido.

– Bárbara! - a criança abraçou forte a companheira.

– Irmã! Obaaaaa! Mas meu nome não é Sofia? - disse a garota.

Ahn?

O homem trancou a porta e apontou uma arma para Sofia.

– Tire a roupa. Agora. - falou ele.

– O quê?! Pensei que fosse me ajudar. de mau! - começou a dar tapas no bandido e a gritar.

– Cala a boca! - deu uma coronhada e apagou-a - Droga. O jeito é fazer com você mesmo.

– Não! - Bia desesperou-se.

Ele a ergueu e jogou sobre a bancada. Ela ficou sem reação. Apenas chorava com medo. Enquanto o abusador abria o zíper e despia a vítima, distraiu-se com o apitar do relógio. Eram sete horas em ponto. Sentiu um puxão e foi jogado contra a parede. Deixou a pistola escorregar para o outro lado do cômodo. Se surpreendeu com a moça na sua frente. Tentou pegar a arma. Ela o lançou na pia, afundando sua cabeça na água. Se debateu. Logo parou. Largou-o e colocou as roupas de volta em Bia, desmaiada com o susto.

– Vamos embora, irmãzinha. - Bárbara montou a garotinha nas costas e saiu.

Felizmente, ela conhecia bem a cidade. Não seria um problema chegar na mansão. Pensava no que poderia ter acontecido. Sentia ódio só de pensar. Perguntava-se de onde vinha aquela dor enorme na cabeça. Teve raiva de Sofia, porém preferiu culpar a si mesma. Se tivesse ficado na propriedade, Bia não teria passado por tal situação.

Bianca! - Cláudia se alegrou ao ver a loira.

– Fica quieta! Não vê que ela tá dormindo porra? - falou Bárbara.

– Ai! Assim você que vai acordá-la.

Levaram a menina ao seu quarto. Colocaram ela na cama e a cobriram.

– Tem um lugar sobrando, se quiser dormir. - disse a babá.

– E perder o único momento em que fico acordada? Sem chance. - respondeu a moça.

– Eu vou. Boa noite.

– Boa noite...

Bárbara observava a lua da janela, aguardando a manhã chegar.